Opinião
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19.Novembro.2011
Gilka Badaro, ex-prefeita de Itajuipe
"Tenho grande dívida para pagar a Itajuípe"
- afirma a ex-prefeita e pré-candidata Gilka Badaró. Funcionária da União dos Municípios da Bahia (UPP) e filha do Humberto Badaró, o terceiro prefeito de Itajuípe, Gilka reconhece que não terminou bem seu segundo governo, mas diz que seis dos oito anos foram maravilhosos.
Divorciada, mãe de um filho, a pré-candidata pelo PSB afirma que está retornando porque tem “um caso de amor mal resolvido com a população de Itajuípe”. Em entrevista exclusiva ao A Região, ela critica a falta de investimentos na cultura e nos esportes.
Gilka Badaró diz que está muito mais experiente e preparada para administrar o município do sul da Bahia e justifica a sua mudança de cidade como uma questão de sobrevivência.
“Tinha que trabalhar para pagar as contas. Por isso, tive que me mudar para Salvador. Mas nunca esqueci o povo da minha cidade”.
Você tem uma ligação muito forte com Itajuípe, não?
Meu pai foi vereador por Ilhéus e presidente da Câmara Municipal, quando Itajuípe ainda era um distrito e se chamava Pirangy. Ele foi um dos que lutaram pela emancipação política e administrativa de Itajuípe. Já fui prefeita por dois mandatos, sendo seis com uma excelente administração.
Mas o final do seu segundo governo foi muito contestado.
Os dois últimos anos não foram tão bons porque enfrentamos o início da crise do cacau, com a chegada da praga da vassoura-de-bruxa. A arrecadação do município sofreu uma queda drástica e não tivemos condições de manter o pagamento das contas em dia.
O que mudou do primeiro para o segundo mandato?
Queda brusca na arrecadação. Durante os primeiros anos de meu governo o plano de salários de Itajuípe era parecido com os de Itabuna, na época de Ubaldo Dantas, e Ilhéus com Jabes Ribeiro. Ou seja, pagávamos o mesmo salário que os dois maiores municípios do sul da Bahia. Isso era possível porque tínhamos uma boa arrecadação com ICMS.
Não conseguiu encontrar saída para resolver a queda de arrecadação?
Tenho uma frustração muito grande porque não consegui terminar o segundo mandato como o primeiro. Por isso, digo que fiquei com uma história de amor mal resolvida com Itajuípe. Nos últimos 14 anos tive o pensamento de voltar ao município e consertar o que não deu certo no final do segundo mandato.
Você diria que é mais fácil administrar Itajuípe hoje do que quando surgiu a crise do cacau?
Sim. Naquela época, por exemplo, não contávamos com a verba do governo federal para a educação. Hoje, o Fundeb - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - praticamente cobre todas as despesas com educação. Existe ainda o Fundo Nacional de Saúde para cobrir os gastos na área. Na minha época tudo saia do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e ICMS.
Uma das coisas que marcaram em uma de suas administrações foi a micareta. Itabuna em peso ia para lá. Você acha que Itajuípe ainda comporta um evento desse porte?
Sim. Não como era feito naquela época, em que o município bancava todas as despesas, mas fazendo parcerias com outros setores. Na minha vida inteira conseguir fazer amigos, independente de sigla partidária. Então, acredito que meus amigos podem nos ajudar a fazer grandes eventos em Itajuípe. Até hoje eu mantenho um relacionamento de amizade com o pessoal da banda Chiclete com Banana.
Na região foi o primeiro município onde a banda se apresentou, não?
Itajuípe foi a primeira cidade do interior da Bahia em que a banda tocou. Ainda me recordo que eles lançaram em Itajuípe a música “Mistério das Estrelas”, que estourou nas paradas de sucesso. Os meninos do Chiclete passaram a gostar ainda mais de Itajuípe. Acharam que deu sorte.
Tem alguma história da época?
Uma coisa marcante foi que tivemos que improvisar uma hospedagem para Bel Marques em um galpão de cacau. Então é uma relação bem antiga que temos com os meninos da banda Chiclete com Banana.
Gostaria que você desse uma nota para a gestão do prefeito Marcos Dantas.
Ele foi bem na primeira gestão, mas nessa segunda está meio perdido. Ele vem conseguindo manter o pagamento de salário dos servidores mais ou menos em dia, porém Itajuípe não conta com nenhuma obra de grande porte. O município precisa de investimento, principalmente nas áreas de infraestrutura e esportes.
Mesmo quase todos os municípios podem recorrer aos programas federais para isso?
Não há bons programas sociais funcionando em Itajuípe. A violência tem aumentado e, entre outros motivos para isso, estão a falta de políticas sociais que ajudem a tirar as crianças e jovens das ruas. O governo federal tem diversos programas que deveriam funcionar melhor em Itajuípe. Além disso, falta espaço para a prática de esportes e lazer no município.
De que forma o município pode contribuir com a segurança pública?
Penso que a prefeitura poderia contribuir mais com a segurança pública, que é um dever do estado, mas o município pode ser um parceiro nessa área, ajudando a colocar combustível na viatura, por exemplo. Além disso, a prefeitura oferece poucas alternativas para que os jovens não se envolvam com a marginalidade.
Que outras áreas não estão bem?
O prefeito não valorizou uma das coisas que o povo de Itajuípe mais gosta: o esporte. Na minha época tivemos excelentes seleções disputando e conquistando títulos do Campeonato Intermunicipal, revelando talentos, que davam orgulho e levantavam a autoestima da comunidade. A verdade é que os esportes estão abandonados.
E o estádio?
O estádio está sem grade, com arquibancada precária e sem gramado. Na minha época, além da presença da seleção ser garantida, realizamos os campeonatos interbairros e rural. Tínhamos opções de lazer para o nosso povo. Como não temos equipe participando do Campeonato Intermunicipal, os nossos atletas estão indo jogar em seleções como Coaraci e Ibicaraí.
A torcida vai acompanhar...
Somos tão apaixonados pelo esporte que boa parte das pessoas que assistiram aos jogos da semifinal do Intermunicipal deste ano era de Coaraci. Com tudo isso, o esporte não é valorizado em Itajuípe. O nosso ginásio de esportes ficou dois anos fechado. A cultura foi outra área que ficou abandonado nos últimos anos.
Por que a cultura?
Itajuípe, ao lado de Buerarema, foi um dos celeiros de artistas. A terra de Adonias Filho não pode ficar sem grandes ações na área cultural. O que foi feito nos últimos anos é muito pouco para a importância de Itajuípe. Lembro-me de quando fizemos uma homenagem a Adonias, trazendo para a cidade os membros da Academia Brasileira de Letras, inclusive Raquel de Queiroz.
E a repercussão disso?
O evento foi noticiado no então jornal “Cacau Letras”, dos jornalistas Hélio Pólvora e Manoel Leal. Foi uma luta para que Adonias Filho aceitasse a homenagem, porque ele era muito tímido. Para comemorar o aniversário de Itajuípe sempre promovíamos uma semana de cultura. Acho que Itajuípe precisa voltar a ser uma cidade de grandes eventos.
Como é ter o nome lembrado depois de tanto tempo fora de Itajuípe?
É uma sensação muito boa saber que em todas as pesquisas estamos liderando com folga para o segundo colocado. Tive que sair do município por uma questão de sobrevivência, para trabalhar e poder pagar as contas.
Caso seja eleita, o que pretende fazer com a infraestrutura do município?
Essa área viu o maior investimento durante as minhas administrações, quando pavimentei os distritos Bandeira, União, Cerqueiro, além de bairros como Alto da Liberdade, Pitangueira, Três Paus – estou chamando até pelos nomes pelos quais alguns deles são conhecidos-; Santa Rita de Cássia, Santo Antônio, além do centro.
Quais outros investimentos foram feitos?
Construímos praças, escolas e ampliamos as que já existiam. Deixamos a cidade toda arrumada.
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