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8 de Janeiro 2011




Gilson Nascimento, ex-secretario


"Meu lugar é nos bastidores da política"
gilson diz Gilson Nascimento, ex-secretário de Administração de Itabuna, que fala do relatório entregue ao prefeito José Nilton Azevedo, da culpa (ou não?) pelo roubo dos sucos, alvarás emitidos no final de semana e outros casos.à Assembleia Legislativa e que tem como principal cabo eleitoral o ex-prefeito de Itabuna, Fernando Gomes.
      Gilson conta qual a parte mais difícil enquanto estava no cargo e o que o motivou a sair. A entrevista foi no gabinete do vereador Wenceslau Jr. Gilson entregou sua carta de exoneração no dia 30 de dezembro. Confira.

Você entregou um relatório ao prefeito com irregularidades. Por que não divulgou os erros antes e por que não torna público o relatório?
       Entreguei um relatório onde apontava irregularidades e as medidas foram tomadas. Não foi um relatório único. Assim que o núcleo de inteligência ia descobrindo e me passava, o prefeito tinha conhecimento. Os relatórios eram individuais.
      Quanto à divulgação, já que é uma questão interna do Poder Executivo e as medidas estavam sendo tomadas, não havia necessidade.

Afinal, quem foi culpado pelo roubo dos sucos, os alvarás emitidos num sábado, o desvio de material de construção, passagens desviadas, os remédios na zoonose?
       Todos esses fatos foram investigados pelo núcleo de inteligência junto com a corregedoria. No caso dos sucos não houve desvio, o que houve foi erro de alguns funcionários que deram garrafas para o pessoal que estava descarregando o caminhão.
      Foi um erro e todos foram automaticamente exonerados. Na que tange a questão dos alvarás, foi feita uma investigação, alguns servidores de carreira foram remanejados e outros exonerados.
      No caso do desvio de material de construção os servidores envolvidos foram afastados, respondem inquérito policial e, enquanto aguardam o resultado da investigação, não estão recebendo salário. Outro fato muito divulgado foi o desvio das passagens.
      Foi feito um trabalho de investigação com filmagem e o servidor foi localizado, levado para a delegacia, confirmou o envolvimento, inclusive apontando funcionários da empresa responsável pela emissão das passagens.
      No caso da zoonose foi feito um levantamento, descobriu-se os erros e as providências foram tomadas.

Quais foram as punições e para quem?
       Detectados os erros os servidores foram exonerados. Todos que apareceram nos relatórios da corregedoria foram exonerados a bem do serviço público. O que ainda não foi concluído por estar na delegacia é o do material de construção.
      O Pascoal não foi exonerado, mas está afastado, aguardando o término das investigações sem receber salário.

O que te motivou a sair da prefeitura foi o comando da secretária do prefeito, Joelma, acima dos secretários municipais?
       Não conheço Joelma como comandante de nada. Joelma é uma simples secretária e deve se colocar no lugar dela. O que me motivou foi uma questão regimental da polícia, que diz que o policial afastado não pode permanecer por mais de dois anos, senão ele é aposentado.
      Tenho 18 na polícia e seria um prejuízo muito grande para a minha carreira e a sustentação da minha família. Na política são só quatro anos, podendo se estender por oito, mas é temporário. Já a minha função no estado é permanente.

Seu apoio à chapa de Ruy Machado, que se declara independente, já é retaliação a Azevedo por Joelma apoiar Roberto?
       Não conheço Joelma como articuladora política, não a vi em campanha política nenhuma, nunca soube que ela coordenou campanha de ninguém. Fazem muito lobby em cima de uma pessoa sem expressividade nenhuma.
      Não existe no meio político. A chapa de Ruy foi por entender que ele reunia as melhores condições. Um grupo independente se juntou, nomes de bem como Wenceslau, Vane, Milton Cerqueira, Ricardo Bacelar, Rose Castro, Solon Pinheiro, Dr. Gerson e Didi.
      São pessoas que se concentraram em torno de um ideal, em nome de uma moralização do legislativo. Aprendi a gostar de Ruy pela sinceridade que sempre demonstrou ter, pela firmeza.
      Quando ele me chamou para ajudar nesse processo, não foi difícil, já conhecia todos os vereadores e foi fácil ajudar nessa composição.

Você pretende sair candidato a prefeito ou a algum cargo político?
       Já descobri que meu lugar na política é no bastidor. Eu pretendo investir em ser técnico politizado, inclusive peguei dois meses de licença para concluir um livro sobre Administração Pública.
      Esse livro é um laboratório que eu tive na secretária de Administração e que estou observando na Câmara de Itabuna. Minha função na política é na parte técnica politizada.

O que foi mais difícil no seu cargo, a completa falta de planejamento, a interferência de outros secretários ou o quê?
       Na secretaria de Administração nós fizemos o planejamento e cumprimos. Eu executei 28 projetos e destaco o de Escola de Gestão Pública, que está no plano de governo do prefeito, onde já capacitamos mais de 1.800 servidores.
      Os servidores da prefeitura nunca tinham tido curso de treinamento e capacitação. Fizemos o projeto junto com a secretaria de Educação e a Usemi para a Escola de Gestão Pública; melhoramos a condição da Guarda Municipal; criamos o Projeto Esporte Vivo junto com Alcântara, da secretaria de Esportes;
      junto com a secretaria de Agricultura o Projeto Itabuna Verde que, com os presidentes de bairros, levamos mudas para ser plantadas nas praças; reativamos o Projeto da Associação de Bairros que estava morto e esquecido.
      Mas a minha maior frustração foi não ter conseguido tirar da gaveta o Plano de Cargos e Salários dos servidores, fazer com que os servidores entendessem que a administração pública não é inimiga deles. Criou essa “birra”, como se um fosse inimigo do outro. Saio e deixo a semente para que possa ser executado por outro.
      

Quando assumiu, você imaginava que o governo ia ser tão sem planejamento?
       Não acho que o governo foi sem planejamento, acho que o que causou os problemas da gestão de Azevedo foi a falta de recursos e os débitos que ele herdou de duas gestões passadas e não atribuiu aos gestores anteriores.

A quem você atribui isso, à falta de pulso de Azevedo ou ao controle de Burgos?
       Eu não acho que o prefeito Azevedo tenha falta de comando. Acho que no modelo de gestão que ele preferiu as pessoas não estavam acostumadas, porque vêm de dois governos, de 20 anos, onde um batia na mesa e gritava, o outro também lidava com a política com “mãos de ferro”.
      Azevedo quis fazer, no meu entender, um governo de disciplina consciente e mais democrático. Não deu certo em algumas situações, mas não acho que Burgos tenha interferência direta, pelo contrário, acho que ele também tem seus traumas, seus rancores.

Essa aparição, cada vez maior, de Maria Alice junto a Azevedo é a volta do controle pelo ex-prefeito Fernando Gomes?
       Acho que dona Maria Alice é uma articuladora política que ninguém quer ter longe, nem os inimigos, porque querem vê-la de perto, nem os parceiros, porque os ensinamentos dela são interessantes.
      Se dona Maria Alice tivesse a consciência que ela tem hoje há 20 anos, ela seria a primeira mulher prefeita de Itabuna, porque é inteligente, é articuladora e sabe lidar com as pessoas.
      Se o prefeito Azevedo estiver buscando os ensinamentos dela, ele vai estar sendo bem orientado. E não acho que seja o retorno de Fernando Gomes, porque já declarou diversas vezes que não quer saber mais de ser prefeito de Itabuna.

Se Joelma não tem expressividade nenhuma, como você disse, e nem é articuladora política, por que o nome dela ventila tanto nos veículos de comunicação?
       Alguém tem que pegar outro como bode expiatório. Ela na verdade ficou sendo a “Maria Alice” do governo Azevedo, que toma a frente para tentar resolver, só que entre Joelma e Maria Alice tem uma distância muito grande.
      Alice é uma mulher experiente, vivida e sabe de política. Joelma é uma amadora, mal sabe fazer um documento oficial.

Para você qual o melhor secretário do governo Azevedo?
       Muitos falam em Gustavo Lisboa como excelente técnico, Mas Gustavo tem recursos próprios, tem recursos do governo federal, então é fácil, com a técnica que ele tem e com sabedoria, fazer uma boa gestão.
      Na minha visão, o melhor secretário é Alcântara que, sem recursos, vem dando show promovendo diversos eventos esportivos e buscando parcerias. Sem dinheiro é que se revela o grande administrador.

 

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