21.Setembro.2013

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Gilson Nascimento, diretor da Ciretran Itabuna

“Ao assumir a Ciretran achei uma casa arrasada”
diz Gilson Nascimento, diretor da entidade, que tem um longo histórico atuando com o trânsito. Formado oficial da PM em 1991, como Sargento, Gilson é formado em administração pela Uesc, com pós-graduação em administração e direito públicos.
      Ele trabalhou na Retram (escritório avançado da Ciretran) de Itajuípe por 4 anos e foi eleito o melhor coordenador na Bahia. Depois foi diretor de Trânsito de Itabuna e secretário municipal, por um período de dois anos, em 2009 e 2010.
      Nesta entrevista exclusiva, ao jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra Dois, da rádio Morena FM (quartas, às 15h), Gilson conta do combate à corrução no órgão e as dificuldades ao assumir a Ciretran. Confira.

Quando chegou na Ciretran, o que encontrou?
       Encontrei uma casa arrasada. Houve uma melhoria significativa do que era e as pessoas percebem essa mudança. Mas não foi somente uma mudança estrutural. O trabalho pesado na Ciretran de Itabuna ocorreu em três variáveis, uma delas elevar o autoestima dos funcionários.

Havia muita corrupção?
       Sim, muita. Enfrentamos uma questão muito séria na parte de habilitação. Quando assumimos fizemos um levantamento e a direção do Detran enviou 12 pessoas para uma intervenção, assumindo as funções.

Obteve algum resultado?
       No dia em que o grupo chegou existiam 53 exames marcados e apenas três pessoas apareceram, o que indica um esquema para beneficiar um grupo. Isso causou o afastamento de funcionários que respondem a processo administrativo.

Mas respondem a inquérito na polícia também?
       Sim. Pessoas foram conduzidas para a delegacia para prestar depoimento. Descobrimos que existia a prática de o candidato pagar e passar no exame sem fazer a prova. Era um esquema antigo.

Eles tentaram novas fraudes?
       Já na minha gestão encontramos um grupo de Minas Gerais, que tentava tirar vantagem da emissão de carteira de habilitação. Hoje, estamos muito mais atentos. Seria ingenuidade minha chegar aqui e dizer que resolvemos o problema de corrupção na Ciretran.

Porque isso?
       Infelizmente, a corrupção é uma coisa impregnada no serviço público. Para coibir qualquer tipo de falhas, faço questão de estar presente na chamada para a prova de direção. Todos os dias. Na quarta-feira conduzimos um aluno para a delegacia porque estava com uma carteira de aprendizado falsificada. E ele devia fazer a prova em Ilhéus, não Itabuna.

Por que ele veio para cá?
       Veio em razão de um esquema de facilitação para as provas práticas. O falsário citou alguns nomes que já desconfiávamos. Já descobrimos casos de falsificação da CNH, o que resultou em prisão de suspeitos em Jussari.

Como se investiga isso?
       Estamos fazendo um trabalho, em parceria com a Coordenadoria da Polícia Civil do Interior, para combater a falsificação de CNH em Itabuna. Já apreendemos não só habilitações fraudadas, mas também documentos de veículos.

Há muitos carros irregulares circulando em Itabuna?
       Muitos. Nos próximos meses vamos intensificar as ações de fiscalização. Itabuna tem um histórico de que apenas 40% dos donos regularizam o veículo. Mas estamos combatendo as fraudes com eficiência, por isso temos sido alvo de críticas pelo uso da vistoria por meio óptico.

Que sistema é esse?
       O Estado lançou a portaria 20/45, que obriga que até 2016 todos os veículos passem por uma vistoria anual para ser licenciados. Ela funciona com numeração diferente a cada ano, com perfurações em cada número, que mudam sempre. Somente o sistema pode detectar. Depois de tirar a foto e passar no sensor, as informações vão para o banco de dados, que identifica se o automóvel é verdadeiro. A obrigatoriedade é para todos os carros, inclusive os novos.

Qual a situação na Bahia?
       A Bahia é o estado que tem o maior índice de veículos clonados. Por isso, o Detran está acelerando algumas medidas. Aqui na Ciretran há 100 mil veículos cadastrados, o que demanda muito trabalho na fiscalização.

Quantos novos licenciamentos são feitos em Itabuna?
       Por mês, temos em Itabuna entre 1,5 e 2 mil licenciamentos de veículos novos, com tendência de aumento, principalmente de duas rodas. O município hoje tem uma frota de 65.320 motos. Do mês passado para cá ganhou 1.700 veículos, dos quais 80% foram motos.

Isso vem gerando um problema grave na área de saúde
       Não só na área de saúde, mas na mobilidade urbana. Itabuna tem mais de 65 mil veículos cadastrados, mas as vias são de quando existiam 5 mil. Em 20 anos os governantes não se preocuparam de cuidar da mobilidade urbana.

Como resolver a mobilidade urbana?
       É preciso que o prefeito de Itabuna dê o pontapé inicial no transporte público de massa. Precisamos o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que é econômico, confortável e seguro. É ótima opção porque a cidade, que está crescimento rápido e desordenada. Ou contamos com o VLT ou enfrentamos um colapso.

Voltando à clonagem, tem muita gente grande envolvida nisso?
       Inclusive sendo investigadas pela Receita Federal. Existem muitos veículos que estão entrando no país na ilegalidade, principalmente pelo Paraná. Temos informações desses carros circulando aqui na região, graças a uma falha no sistema dos dados de veículos importados. Só que o próprio sistema termina detectando a ilegalidade, revelando, por exemplo, a isenção indevida de impostos.

Quais são outros esquemas?
       Em Itabuna tem muitos pokemons, aqueles que as pessoas compram para não pagar. Quem for pego com veículo nessa situação não pode alegar inocência, pois sabe exatamente o que está fazendo. Às vezes, circulam por muito tempo por falta de integração entre os órgãos de segurança.

Quais os cuidados que se deve adotar na venda de um veículo?
       Existe o formulário no site do Dentran, que o contribuinte pode preencher informando que o carro foi negociado. Isso deve ser feito logo na hora em que o negócio for fechado. Antes de passar o DUT para o novo dono, faça uma cópia, pois ali há o nome da pessoa que adquiriu.

E os táxis que vão ter a licença cancelada por ilegalidades. O que vai acontecer?
       O dono terá que ir ao Detran fazer a substituição das placas e mudar da categoria de aluguel para particular. Se isso não acontecer, o veículo será apreendido, porque o dono estará cometendo sonegação fiscal. O táxi não paga IPVA.

Quanto à cinquentinha, quais as regras?
       Os donos dessas motos de menor potência precisam ser habilitados. Se a Polícia Militar fizer uma operação e flagrar condutores com cinquentinha inabilitados, pode apreender o veículo. A pessoa precisa ser habilitada na categoria “A” ou na “ACC”.

Por que a autoescola municipal não saiu do papel na gestão passada?
       Não saiu porque foi uma ação eleitoreira e o Estado colocou condicionantes. Isso não foi feito por tratar-se de um partido da oposição, mas porque a obrigação de documentação não é do município, mas do Estado. Para a Prefeitura de Itabuna criar a escola pública, deveria fazer um convênio com o Estado, que criaria um núcleo da escola pública de trânsito.

Então Itabuna vai ficar sem esse equipamento?
       Acredito que não. O atual secretário de Trânsito, Clodovil Soares, esteve em Salvador e se comprometeu a seguir todo o processo para a Escola de Trânsito. O Detran está disponível para ajudar, mas dentro da legalidade.

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