29 de Maio de 2004
Geraldo Simões, prefeito de Itabuna
"O ex-prefeito não governou, mas sim desviou"
afirma Geraldo Simões ao se referir aos cerca de 100 processos contra Fernando Gomes no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e no Ministério da Saúde.
Nesta entrevista exclusiva ao jornal A Região, na quarta-feira, 26, o prefeito também falou do seu índice de rejeição, das críticas dos ex-aliados e das obras realizadas no município.
Com relação ao ex-prefeito Fernando Oliveira, a alfinetada foi direta: ele não governou, mas sim desviou em Itabuna. "Desviou da educação, da saúde..." No final, algumas respostas que não saíram na edição impressa por falta de espaço.
A Região - O que ainda é possível fazer no que lhe resta desse mandato?
Ainda temos 184 dias de governo, dá para fazer muita coisa. Vamos inaugurar o asfalto da Califórnia, concluir o do Santo Antônio, fazer o do São Lourenço, Ferradas, Maria Pinheiro e São Pedro. Vamos recuperar todas as quadras esportivas e construir mais 13, construir duas novas unidades de saúde nos bairros São Pedro e Jorge Amado e recuperar o Centro Comercial. Na saúde, vamos implantar o atendimento de emergência (Samu), o tratamento dentário, a correção de deficiência visual. Vamos instalar a unidade de cardiologia no Hospital de Base e continuar pagando em dia dívidas, salários e fornecedores.
AR - O que o senhor destaca no seu governo?
Melhoramos muito a qualidade de vida das pessoas. Nosso IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU, que leva em consideração educação, saúde e renda, saltou da sétima posição na Bahia para a terceira. A primeira é Salvador e a segunda Lauro de Freitas. Nossa cidade tem hoje a melhor qualidade de vida do interior do estado. Só como comparativo, Ilhéus está em 22º. Isso é resultado de investimentos na área social.
AR - Quais foram os investimentos mais importantes?
Ainda sobre o social, gostaria de destacar a redução da mortalidade infantil à metade e os avanços na educação, que tinha evasão escolar de 50% e caiu para menos de 10%. Melhoramos o sistema de distribuição de água, com investimento de R$ 10 milhões. Cerca de 50 mil habitantes que recebiam água de 15 em 15 dias, têm água toda semana. A decisão de pagar em dia a dívida da Prefeitura também foi importante para abrir as portas de Brasília, para programas como o Bolsa-Família.
AR - Qual o impacto mais significativo desses investimentos?
Nossas ações estão dando tão certo, que hoje a cidade é praticamente a única que tem o ICMS ascendente. O índice aumentou 8% este ano, enquanto o de Ilhéus caiu 10%.
AR - Qual a diferença do seu asfalto para o que ganhou o apelido de "sonrisal"?
O meu governo é o que mais colocou asfalto em Itabuna, mais de 60 Kms, e a diferença é que aquele asfalto durava seis meses, enquanto este é permanente, basta conservar. Antes do asfalto, ajeitamos a drenagem, o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e o meio-fio.
AR - Mas esse asfalto ainda não chegou em bairros como o São Pedro.
Não poderia fazer isso sem antes construir o canal. O que foi gasto na macrodrenagem, cerca de R$ 2 milhões, é o valor do asfaltamento de todo o bairro da Califórnia. Mas se eu não fizesse o canal e fosse colocar o asfalto, as casas de baixo seriam todas inundadas, porque o São Pedro fica em uma espécie de bacia.
AR - O senhor tem investido muito em saúde, mas existem reclamações quanto à marcação de consultas. Por quê?
Nós tivemos um enorme avanço na saúde de Itabuna. Serviços que a cidade não tinha, hoje tem, como o Creadh, para atender portadores de deficiência física, visual e auditiva; o Caps, que atende pessoas com transtornos mentais; um centro para a saúde do trabalhador, o Cepron, para a prevenção do câncer; a Policlínica, com 30 médicos especialistas, e a Central de Regulação. Mas à medida em que melhora, mais as pessoas procuram.
AR - Mas as queixas são bastante focadas na marcação de consultas.
Como era antes? A pessoa ia a um posto médico, o clínico-geral pedia que viesse ao centro da cidade, para o antigo INPS, na Praça Santo Antônio. Você passava 6 horas da tarde, tinha uma fila que ia até o fórum. Como é hoje? No próprio posto a pessoa é informada sobre o dia em que deverá ser consultada pelo especialista. Ela vem um dia ao centro da cidade e já tem o horário marcado. E o sistema vai se tornar muito mais ágil com a informatização.
AR - Renato Costa diz que, se for eleito, vai colocar todas as crianças na escola...
Ele deve estar se referindo às crianças que ainda vão nascer, porque em Itabuna as crianças em idade escolar estão todas na escola. São 32 mil alunos, enquanto no início do nosso primeiro governo havia 16 mil. Entrava prefeito, saía prefeito e 10 mil crianças estavam fora da sala de aula. Hoje todas estão na escola.
AR - O que a Prefeitura tem feito em relação à geração de empregos?
Nós fizemos um estudo que mostrou que Itabuna estava tendo um grande problema de pessoas que não tinham acesso ao emprego por falta de instrução, então estamos trabalhando muito nessa área. Temos 3 mil adultos sendo alfabetizados, uma Agência Municipal de Emprego, o Senai e o projeto Informática para Todos. Itabuna é a segunda cidade na Bahia que mais abre empreendimentos e o maior indicativo é o incremento de 8% no ICMS.
AR - Por que os prefeitos de Itabuna têm tantos problemas com os vices?
Sempre o problema foi do prefeito para com o vice. Ubaldo foi prefeito e suspendeu o salário do vice, Jairo Muniz. Renato foi vice de Fernando Gomes e ele expulsou Renato da prefeitura, trancou a sala, bateu prego e suspendeu o pagamento. Hoje Ubaldo vem brigando comigo. Com os cargos eu não permiti que ficasse, mas ele continua com carro, motorista, viagem, telefone e recebendo em dia os salários.
AR - E com Renato, qual foi o problema?
Eu participei da eleição de Renato nas duas vezes em que ele foi deputado e ele nunca disse que contou com minha ajuda. Mas quando ele perdeu uma, disse que perdeu porque eu não ajudei. Os dois colocaram interesses eleitorais acima da relação partidária.
AR - O governo do estado fez alguma coisa por Itabuna durante a sua gestão?
Nesses três anos, quatro meses e 26 dias, o governo baiano não pintou um poste em Itabuna. A segurança é um desastre: não tem carro, não tem pneu, não tem combustível. A educação está um caos. Passaram quatro anos para reformar o Colégio Estadual, as escolas não têm merenda, não tem material e estão sempre em greve.
AR - O senhor não acha que a perda de partidos pode dificultar sua reeleição?
Eu trabalhei para manter unidos os partidos. Todos tinham cargos importantes e orçamento. A verba que o ex-secretário da saúde (Edson Dantas, PSB) administrava era a metade do orçamento de Itabuna. Ubaldo tinha sob seu comando a Fundação Marimbeta, a FICC, a diretoria administrativa da Emasa e a Secretaria de Governo.
AR - Mas Renato Costa diz que Edson Dantas não mandava nada...
A autonomia que o ex-secretário Edson Dantas tinha era a mesma que o médico Paulo Bicalho tem hoje. A diferença pode estar no dinamismo e na capacidade de tomar iniciativas. Voltando à questão da saída dos partidos, vale lembrar que nós estamos recebendo o apoio de novas legendas, como PTB, PL e PMN. Perde-se uns e ganha-se outros.
AR - O senhor se preocupa com o seu atual índice de rejeição?
Eu me preocupo com a rejeição e nós vamos trabalhar para reduzí-la. Nosso governo é o que mais realizou e empreendeu. A rejeição existe porque venho recebendo pesadas críticas de ex-aliados. O meu adversário não me critica, quem faz isso são os ex-aliados e a população fica sem entender.
AR - O senhor acha que existe um clima de denuncismo contra seu governo?
Já foram feitas três ou quatro denúncias, todas apuradas pelo Ministério Público ou pelo Tribunal de Contas. Tudo foi esclarecido sem nenhum problema. Quem é acostumado a ter uma gestão cheia de irregularidades é meu adversário, com cerca de 100 processos e todos procedentes. Tem gente que diz que ele não governou, ele desviou em Itabuna. Desviou dinheiro do programa do leite, do combate à dengue, da merenda, de remédio. Desviou até um prédio premoldado, doado à Prefeitura de Itabuna pelo Banco do Brasil.
AR - Com relação à campanha, o que o senhor espera?
Vai ser uma campanha dura, não como foi a última, em que eu enfrentei um adversário que tinha juiz, polícia, televisão, governador, tudo do lado dele. Não vai ser mais assim. Ele vai ter um governador do lado dele e eu vou ter um presidente.
A seguir algumas perguntas que ficaram fora da edição impressa por falta de espaço
AR - Itabuna passou quatro anos sem uma secretaria de cultura e agora existe uma fundação. Por que o senhor optou por este modelo?
A fundação pode ter uma autonomia maior que a secretaria e já existia uma história aqui na cidade de falta de continuidade nos projetos da cultura quando eles eram geridos por uma secretaria. Então, a idéia de fundação pressupõe que, com mais autonomia, ela possa desenvolver ações permanentes. Também criamos uma Secretaria de Esportes, que antes não tinha, e buscamos associar o esporte à educação.
AR - O que falta para resolver o problema de fornecimento de água em Itabuna?
Nos últimos anos, Itabuna só teve investimento no sistema de fornecimento de água quando eu fui prefeito pela primeira vez, com a implantação da estação de Castelo Novo, que impediu que a cidade enfrentasse um colapso no abastecimento. E agora, nós investimos R$ 10 milhões numa obra para melhorar a distribuição de água. Isso tinha acontecido apenas no governo de Luiz Viana, 30 anos atrás. Água e saneamento precisam de investimento permanente. A distribuição já está organizada, falta agora aumentar a oferta. Nós temos uma captação no Rio Almada, que nos dá em torno de 600 litros por segundo, mas precisamos aumentar essa produção e fazer uma outra captação.
AR - Esse novo presídio que foi anunciado, vai mesmo sair?
Essa é uma obra importante para Itabuna, será um complexo penitenciário moderno. A Prefeitura adquiriu uma área de 50 mil metros quadrados, próxima de Ferradas e doou ao governo do estado, que já dispõe em caixa de R$ 5 milhões transferidos pelo governo federal para a realização da obra. Eu espero que ela seja iniciada o mais rápido possível, por se tratar de um equipamento extremamente necessário para a nossa cidade.
AR - O PDT tem uma orientação nacional para não se coligar com o PT. Como fica aqui?
Isso não será problema em Itabuna, porque existem ressalvas na Bahia para essa orientação. Em Itabuna, o PDT vai continuar com a gente.
AR - Como o senhor analisa a atual Câmara de Vereadores?
Eu acho que houve um avanço na Câmara atual sob a gestão do vereador Emanoel Acilino, a ponto de termos visto até a devolução de recursos aos cofres públicos, coisa que não me lembro de ter acontecido em outro momento no município de Itabuna. Você não vê escândalos na Câmara, não vê desvios. A casa tem hoje uma composição superior a muitas outras que já existiram em nossa cidade e, quanto à sucessão, nós vamos trabalhar para que a nossa coligação eleja a maioria da Câmara.