Opinião
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18 de Março de 2006
Jabes Ribeiro, ex-prefeito de Ilhéus
"Eleito deputado, não disputarei a prefeitura"
afirma o ex-prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, em entrevista exclusiva ao A Região. Ribeiro foi prefeito por três mandados, ex-deputado estadual e federal, ex-secretário de estado e neste ano luta por uma vaga na Assembléia Legislativa da Bahia, pelo PFL.
Além de apresentar seus projetos para os municípios regionais, Jabes Ribeiro fala das investigações sobre o mensalinho, da administração de Valderico Luiz, do comportamento da Câmara de Vereadores e nega a costura de qualquer acordo com o prefeito.
A Região - Sua bancada vai votar contra o relatório da vereadora Carmelita Ângela que sugere a cassação de Valderico?
Em momento algum os vereadores Joabs Ribeiro e Jailson Nascimento afirmaram que não aprovariam o relatório.
AR - Mas Joabs se apressou em desqualificar o relatório...
É verdade. Ele disse que o relatório era uma farsa e eu confirmo. O relatório do PT de Ilhéus é uma pizza que eles querem que nós assemos.
AR - Como assim pizza?
É uma pizza porque o relatório não apurou o possível envolvimento de todos os citados pelo Delúbio de Ilhéus, o senhor Jerbson Moraes (que apareceu em fitas negociando propina em nome de Valderico Reis). Moraes, pelo que tudo indica, era quem organizava a distribuição do dinheiro.
AR - Então o senhor acredita que tinha mais gente envolvida?
Se os vereadores citados tivessem absoluta tranqüilidade teriam processado o operador do esquema. Por que eles não fizeram isso? Se alguém me denuncia não tenho outra saída se não processar.
AR - Então deveriam ter sido citados os 10 vereadores mencionados por Jerbson?
Claro. O relatório esqueceu a possível participação de 9 dos 10 parlamentares no esquema (só citou o vereador Zerinaldo). O povo de Ilhéus está cobrando o envolvimento de cada uma dos acusados ou citados.
AR - O senhor acha que o que foi descoberto sobre Valderico Reis não merece punição?
Não é isso que quero dizer. Sem dúvida alguma tem que haver punições porque está provado que houve erros gravíssimos. Só acho que o relatório está incompleto, o que não significa dizer que o documento não deva ser aprovado.
AR - Mas ficou um cheiro de acordão no ar.
Afirmar que os vereadores Joabs e Jailson, que junto com Carmelita Ângela não são citados por Gerlúbio, estariam fechando um acordo com Valderico é um grande equívoco.
AR - Os dois vereadores vão votar contra ou a favor do relatório?
Mesmo sabendo que o relatório é um documento incompleto, eu advogo que votem a favor e dêem um voto em separado solicitando novas investigações.
AR - O senhor sabe que essas especulações não surgiram do nada...
O PT de Ilhéus está preocupado comigo, não com Valderico. O prefeito é um ser em extinção, foi um acidente, um equívoco. Valderico é despreparado, não tem espírito público nem é ético. O que aconteceu é que o PT, que se desmoralizou nacionalmente depois do envolvimento no mais alto esquema de corrupção do país, conviveu em Ilhéus com o mensalinho, até porque um dos seus vereadores, Alisson, é citado pelo Jerbson numa das gravações dizendo que ele recebia "oxigênio".
AR - No governo de Valderico não existe nenhuma área que se salve?
Não tem. Ele representa 20 anos de atraso para Ilhéus. O prefeito é desprovido de qualquer possibilidade até de análise, ele não governa. Valderico se elegeu com o único objetivo: retomar o sistema de concessão de transporte coletivo de Ilhéus, que ele perdeu porque suas empresas não tinham documentação necessária para a licitação.
AR - Mas isso ele não conseguiu...
Como ele não conseguiu tirar na pancada a empresa São Miguel, porque a Justiça não deixou, o segundo objetivo é eleger a filha gastando tudo o que puder. Isso é muito prejudicial para uma cidade com a história de Ilhéus.
AR - E sua convivência com o prefeito em partidos aliados ao governo do estado?
Não estamos no mesmo grupo. O partido dele (PL) tem uma visão nacional diferente do PFL, que faz oposição ao governo Lula. O PL é aliado do governo federal.
AR - Mas no estado são aliados.
O que lamento é não poder ocupar esse espaço no jornal para falar da minha motivação para realizar um mandato em defesa da nossa região.
AR - O senhor sonha em voltar a disputar a Prefeitura de Ilhéus.
Não. Eleito deputado para lutar pela minha região não disputarei a prefeitura de Ilhéus em 2008. Estou fazendo essa afirmação aqui resultado de uma profunda análise e uma ampla discussão com os companheiros tanto de Ilhéus quanto da região. Vou me dedicar inteiramente ao resgate do prestígio da região no cenário do estado.
AR - Quais são as bandeiras da região que o senhor pretende levantar?
Estou estudando a criação de uma região metropolitana, um projeto antigo do ex-deputado Antônio Menezes. Ele é importante porque existem ações comuns na região e talvez, com a região metropolitana, possamos avançar numa cultura regional.
AR - O senhor pode citar quais são essas ações?
Na área de abastecimento de água podemos desenvolver um grande projeto, assim como na área ambiental, pois temos problemas gravíssimos ligados à falta de saneamento básico.
AR - E nos outros setores?
Pretendo trabalhar muito pelo fortalecimento da Universidade Estadual de Santa Cruz, que deve ser instrumento para o desenvolvimento regional. Ela tem realizado sua tarefa, mas precisa ser fortalecida para ajudar na formação da massa critica da região cacaueira. Vou me dedicar a isso, até porque sou professor da instituição.
AR - De que maneira a universidade pode ser fortalecida?
Recebendo mais recursos e desenvolvendo novos programas, que viabilizem questões como o destino do lixo produzido pelas cidades. Podemos fazer um trabalho regional, com o processo de reciclagem do lixo, com custos menores.
AR - O que pode ser feito pela cultura do cacau?
Não acredito nos moldes antigos, extrativistas. O cacau deve ser trabalhado com a visão do agronegócio, do produto orgânico que hoje tem mercado em todo mundo.
AR - O que pode ser feito em outras áreas?
Fortalecer o Ponto Internacional de Ilhéus para que ele tenha capacidade de escoar produções como a da celulose, do granito e outros minérios. São questões que exigem uma representação política experiente, capaz e conhecedora dos problemas da região e que possa chegar em Salvador e não apenas apertar botão, mas exigir que as coisas aconteçam.
AR - Há muito tempo que a região não tem bons representantes. Por que?
Nossa fragilidade política é tão grande que eu fui o último secretário de governo do estado dessa região, em 1988. Votos temos demais, o que nos falta é articulação política. A região está minada de deputados que não têm nenhuma vínculo com a nossa história nem com a nossa luta.
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