Opinião
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20 de Agosto de 2005
Dr. Jairo Xavier Filho, cardiologista
"Homem com 100 cms de cintura pode ter infarto"
alerta o médico cardiologista Jairo Xavier Filho, um dos melhores e mais requisitados especialistas do interior da Bahia. Além de cardiologista, ele é "internista", que cuida das grandes áreas da medicina: pneumologia, nefrologia e gastroenterologia.
Formado pela Ufba, coordenador do Departamento Clínico e do programa de residência médica realizado numa parceria da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna com a Ufba, o médico vem lutando pela implantação de uma equipe especializada em atendimentos emergenciais em casos de ataque do coração.
Uma unidade especializada em atendimento à paciente enfartado deve ser implantada até o final do ano no Calixto Midley Filho. Antes, porém, foi iniciado um trabalho para capacitar os médicos de todas as áreas nos primeiros-socorros aos enfartados.
A Região - Quais são as principais doenças do coração?
Hoje, a principal é a cardiopatia isquêmica. Ou seja, é a doença gerada por deposição de placa de gordura nas artérias (vasos que conduzem o sangue do coração a todas as partes do corpo), o que causa a angina, o infarto e morte súbita.
AR - O que é angina, infarto?
A Angina é uma doença causada pelo entupimento, aos poucos, das artérias coronárias, o que gera uma obstrução parcial, provocando o enfraquecimento do músculo. Quando isso ocorre, a pessoa sente uma dor no peito toda vez que faz esforço físico ou tem uma emoção forte. Se a obstrução, em determinado momento, se tornar total, o músculo morre e aí ocorre o infarto. Infarto e angina são irmãos.
AR - O que se pode fazer para evitar essas doenças?
O recomendável é que as pessoas evitem as chamadas gorduras heterogênicas, tudo que for derivado de origem animal. Os queijos amarelos, manteiga e leite não desnatado estão entre os mais perigosos.
AR - Existem outras recomendações?
Ao lado das dietas, que deve ser rica em frutas e verduras, legumes e carne branca, a prática de atividades físicas é fundamental. Não precisa ser um atleta, basta que se movimente, ou seja, faça caminhada, que é um exercício excelente, ou natação. Quem prefere praticar um esporte mais vigoroso nunca deve começar sem consultar um médico.
AR - Quais são os tratamentos para as doenças e a possibilidade de recuperação?
No caso da angina, o tratamento é feito com dietas, evitando-se as gorduras.Também com atividades físicas e medicamentos. Hoje existem uma infinidade de remédios utilizados com muito sucesso. Já no infarto, existem o tratamento clínico e o intervencionista.
AR - Como é feito o intervencionismo?
O intervencionismo ocorre quando o médico introduz um cateter, através de uma artéria periférica, no braço ou na virilha do paciente. Quando o cateter chega ao coração, o médico localiza as artérias que estão com entupimento e, através de um balão, dilata os vasos e coloca um tubinho para não deixar que feche novamente.
AR - Qual o nome desse tratamento?
Ele chama-se angioplastia, que trata com sucesso tanto angina quanto infartos, evitando a morte súbita e a piora da doença isquêmica. Outro tratamento para as doenças são as cirurgias. Tem a de implante de mamária, que é um artéria desviada do braço e ligada na artéria coronária entupida. Tem as pontes de safenas, veias retiradas das pernas e transplantadas no coração por cima do entupimento.
AR - Depois disso o paciente pode se alimentar de qualquer maneira?
Não. O fato da pessoa ter feito uma angioplastia ou cirurgia não dá o direito de voltar a comer gordura. Essa pessoa deve adotar os bons hábitos alimentares para que as doenças não voltem. Aliás, todos nós devemos adotar bons hábitos alimentares para evitar as doenças.
AR - A incidência do infarto agudo do miocárdio é de quatro a cinco vezes mais comum nos homens e pessoas com mais idade. Por quê?
Como toda máquina, o corpo termina se desgastando com o tempo. Quanto ao homem, a incidência é maior porque o sexo masculino tem alguns hormônios, como a testosterona, por exemplo, que aceleram a deposição da gordura dos vasos.
AR - As "bombas" podem provocar doenças do coração?
Sim. Os atletas que tomam bomba, principalmente as mulheres, morrem de infarto muito cedo. Recentemente, uma corredora norte-americana, mulher negra belíssima, de um corpo musculoso, morreu aos 27 anos porque era usuária de testosterona em altas doses.
AR - É muito difícil as pessoas mais jovens morrerem de doença do coração?
No que tange às doenças relacionadas à deposição de gorduras, é verdade. É muito difícil uma pessoa com menos de 20 anos morrer, a não ser por causa hereditárias. Os jovens só morrem por doenças de coração em casos muito raros, como por doenças de chagas.
AR - Quais os fatores de risco do infarto?
Os quatro fatores de riscos para desenvolver um infarto, angina ou derrame são o tabagismo, a hipertensão arterial, o diabetes não controlados e a obesidade centrípeta, ou seja, aquela que a pessoa engorda pelo meio. Homem que tem uma cintura maior que 104cm está sob um grande risco. A partir de 94cm já deve acender a luz amarela.
AR - E a mulher, a partir de que medição?
A mulher que tenha a cintura maior que 80cm está numa situação de risco e acima de 88cm o fator de risco é grande. Tanto para a mulher quanto para o homem não importa o tamanho, pode até ter dois metros, o que conta é circunferência passando pelo umbigo.
AR - A eliminação desses riscos depende da pessoa...
Sim. Esses fatores de risco são modificáveis: em casos de diabetes e obesidade você trata. Se for tabagismo, é só deixar de fumar.
AR - As pessoas que usam marcapasso podem ter uma vida normal?
Normal. Existem diversas formas de marcapasso. Existe aquele que implantamos no jovem que nasceu com bloqueio no coração, multi-programável, que ele mesmo varia a freqüência de acordo com a demanda. Quando a pessoa é mais idosa é utilizado o marcapasso de freqüência fixa, programado para 60 ou 70 batimentos por minuto, o que dá para o usuário levar uma vida normal.
AR - Quantas pessoas morrem no país vítimas do coração?
Em 2000 (os dados mais recentes ainda não foram divulgados), de acordo com o Ministério da Saúde, 261 mil morreram por doenças do coração no Brasil. Esse número está subestimado, pois os dados são de atestados de óbitos, ou seja, referem-se apenas às pessoas que chegaram no hospital ainda com vida. As que morreram na rua, cerca de 50%, não entraram nessa conta. A estimativa mais acertada é em torno de 600 mil pessoas/ano. Isso é três vezes a população de Itabuna.
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