Opinião
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19 de Julho de 2008
Jay Wallace, Diretor Geral da Ceplac
“A Ceplac nunca estará bem enquanto a Bahia estiver mal”
afirma o futuro Diretor Geral da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Jay Wallace, que será empossado no dia 30, às 17h, em Brasília, substituindo Gustavo Moura.
Jay, que ainda está em férias, é engenheiro agrônomo com Mestrado e Doutorado em Fisiologia Vegetal e entrou no órgão em abril de 1980, por concurso, como Pesquisador Auxiliar na Estação Experimental de Altamira (PA).
Ele trabalhou 10 anos em Rondônia, ocupando inclusive os cargos de Chefe da Estação Experimental de Ouro Preto (ESEOP), Coordenador de Pesquisa da Amazônia Ocidental e Coordenador Regional da Amazônia Ocidental (Rondônia, Acre e Amazonas).
No Pará, além de pesquisador, foi Chefe do Serviço de Pesquisa e, antes de escolhido para o novo cargo, respondia pela Superintendência no estado. Jay Wallace, que faz questão de observar que ainda não foi empossado, nos concedeu esta entrevista exclusiva.
A Região - O senhor vai ocupar um cargo que tem sido político. Tem ligações políticas?
Não sou filiado a nenhum partido político. Todas as funções que assumi dentro da Ceplac foram por indicações técnicas. A presente nomeação, por exemplo, resulta da avaliação do grupo técnico encarregado de subsidiar o Ministro na decisão de fortalecer o órgão. É evidente, porém, que não desconhecemos a natureza política da função, o que impõe o estabelecimento de relações com as lideranças políticas de modo a estabelecer parcerias com as estruturas de poder, independentemente da orientação partidária de seus mandatários. Aqui no Pará, por exemplo, desde que assumimos a Superintendência, temos estabelecido parcerias com o Governo do Estado, e prefeituras. Temos viabilizado emendas ao orçamento subscritas tanto por parlamentares governistas como da oposição. O partido é o cacau.
AR - Voce conhece o sul da Bahia e sua produção de cacau?
Todos nós, técnicos da Ceplac, somos obrigados a conhecer um pouco da cacauicultura sulbaiana, seja através de treinamentos na região, ou pelas publicações técnicas, em sua maioria voltada para os problemas da cacauicultura da Bahia. Particularmente, em função das minhas atividades de pesquisador, visitei com alguma freqüência, principalmente quando exerci as funções de Chefe dos Serviços de Pesquisa em Rondônia ou no Pará. Além do mais, os acertos, erros e/ou crises da cacauicultura baiana sempre extrapolam suas fronteiras, em função do nível de organização e eficiência de suas lideranças.
AR - Voce é o primeiro da região Norte a comandar a Ceplac. Ela vai se voltar mais para lá?
É evidente que não. Costumo desempenhar as minhas funções de acordo com as atribuições e responsabilidades inerentes a elas. Assim me comportei quando à frente das Superintendências de Rondônia e do Pará. E assim me comportarei como Diretor da Ceplac. Entretanto, reconheço a preocupação das lideranças da Bahia, em função das fragilidades do modelo de gestão do órgão. Desde que fomos inseridos na estrutura da administração direta, em 1990, entre outras dificuldades destaca-se a frouxidão e a informalidade da estrutura, conferindo ao Diretor um poder quase imperial. Não há qualquer vinculação formal do orçamento ao programa desenvolvido nas diversas Superintendências e a alocação de recursos tornou-se um ato discricionário da Diretoria.
AR - Como o senhor vai abordar estes problemas?
Temos o compromisso de estabelecer mecanismos de gestão suficientemente transparentes e imunes à administrações tendenciosas ou de caráter regionalista. Sabemos que os gestores se alternam e não podemos ficar a mercê das circunstancias. Talvez essa situação nunca tenha sido muito bem percebida pelas lideranças da lavoura, justamente porque a Direção sempre foi exercida por pessoas ligadas à região. Mas, se depender de mim, continuarão sem perceber, uma vez que não pretendemos favorecer as demais regiões em detrimento da Bahia. Sou da Ceplac... E a Ceplac nunca estará bem quando a Bahia vai mal.
AR - Voce pretende substituir os cargos de confiança, inclusive no sul da Bahia? Quais?
Felizmente conhecemos e temos amizade com muitos técnicos competentes da Ceplac na Bahia, inclusive os que estão exercendo funções de direção. Entretanto, não costumo delegar competência por critérios pessoais. Pretendemos discutir com os colegas e lideranças com a franqueza necessária que a situação requer.
AR - Voce já tem um nome para assumir o comando da Ceplac no sul da Bahia?
Ainda não analisei suficientemente a questão e não reúno informações suficientes para decidir sozinho. Gente competente é o que não falta na Ceplac/Sulba. Precisamos apenas identificar, entre os muito capazes, os que reúnem liderança e tenacidade que a situação requer. Por enquanto, não descarto ninguém. Nem mesmo os atuais ocupantes. O mais importante é definir os rumos da instituição e o modelo de gestão a seguir.
AR - O PAC do Cacau está sendo implantado no sul da Bahia. Como voc e vai acompanhar?
Já tenho conversado com os colegas do Cenex acerca das atribuições da Ceplac na implementação do PAC do Cacau. O Dr. Cloíldo me relatou as providências que estão sendo adotadas e estou certo que não teremos problema em cumprir adequadamente nosso papel.
AR - O banco só dará o desconto do PAC se a Ceplac der ao produtor um laudo assumindo que induziu o agricultor a uma prática sem efeito. O produtor pode contar com este laudo?
O Dr. Cloíldo, Chefe do Cenex, me informa que os procedimentos adotados estão sendo cumpridos dentro dos prazos, os quais podem inclusive ser flexibilizados pelas instituições de crédito.
AR - Há semanas voce declarou que o Pará iria ultrapassar a Bahia em produção em 10 anos. Isso vai virar plano da Ceplac?
Isso não é um plano nem mesmo do Estado do Pará. A declaração que fizemos apenas projeta um futuro baseado na situação atual. Ou seja, mantido o quadro de dificuldades da cacauicultura baiana e mantidas as taxas de expansão da cacauicultura paraense, mais cedo ou mais tarde o Pará poderá superar a produção da Bahia. A pretensão do Pará é alcançar uma escala de produção da ordem de 120 a 150 mil toneladas de cacau, capaz de atrair investimentos do seguimento industrial, de modo a agregar mais renda e empregos. O que buscamos com o discurso é fortalecer a parceria do Governo do Estado com a Ceplac, com vistas a não perder o controle da situação. A divulgação das metas de crescimento da lavoura enfraquece o cenário de baixa oferta no futuro, evitando a desmobilização de plantas industriais no país.
AR - Quais os seus planos para a extensão, que no momento está quase parada?
Essa situação se repete nas demais superintendências. Certamente não por culpa dos extensionistas, mas pela carência de recursos que a Ceplac atravessa. O plano, portanto, começa pela busca de meios e recursos orçamentários, de modo a permitir que o Cenex exerça plenamente sua competência. A despeito disso, consideramos a possibilidade de estruturar a extensão através de projetos direcionados a problemas específicos, com objetivos definidos, metas e impactos mensuráveis de modo a aferir-se melhor a performance das ações.
AR - E para a área de pesquisa?
No caso da pesquisa, há que se considerar, além da escassez de recursos, o clima de tensão entre os pesquisadores e a direção da Ceplac. A competência do Cepec é inquestionável, mas a desmotivação do quadro têm limitado a utilização da nossa capacidade em toda sua plenitude. Estamos certos de poder contribuir para a harmonização do ambiente de trabalho, indispensável para o bom desempenho de qualquer pesquisador. Motivados, os pesquisadores certamente facilitarão a captação de recursos junto às agências de fomento, mercê da competitividade e excelência de seus projetos.
AR - E a diversificação e mini-fábricas de chocolate previstas no PAC do Cacau?
Acho a diversificação fundamental para fortalecer a região e livrá-la da dependência do monocultivo e das freqüentes oscilações de mercado. O estabelecimento de mini-fábricas pode ser uma opção interessante para explorar nichos de mercado. A oferta de produtos de qualidade estável e indicação de origem deve agregar valores consideráveis à produção. Entretanto, o simples processamento, em pequenas plantas, sem as preocupações citadas, certamente dificultará o alcance dos resultados desejados.
AR - Como o Norte convive com a vassoura-de-bruxa?
Na Amazônia a convivência com a doença é mais fácil, em ambas as condições de cultivo – terra firme e várzea. Primeiro, por contarmos com uma estação seca bem definida, o que determina um ciclo anual na vida do patógeno, possibilitando um controle eficaz com apenas uma remoção anual (fim do período seco). Por outro lado, o material de plantio, uma mistura de híbridos com relativa tolerância à vassoura-de-bruxa, dificulta a infestação. No caso do cultivo na várzea, contribui ainda a fenologia das plantas, que lançam muito menos, sem fluxos intensos nos momentos de maior esporulação do fungo.
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