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19 de Fevereiro de 2005

Katia Lira, ambientalista
"Estão fazendo terrorismo para vender a Emasa"

       afirma a ambientalista Kátia Lira, acrescentando que, no momento, o risco de colapso de água em Itabuna é praticamente zero. "Isso é puro terrorismo que estão tentando fazer para vender um patrimônio público sólido e que já mostrou, comprovadamente, ser viável ao município".
       Ela é uma das responsáveis pela formação do Comitê das Bacias do Leste, um projeto desenvolvido em parceria com diversos organismos estaduais e federais e que, implantado, vai resolver o problema de vários rios da região, inclusive o Cachoeira.
       Com formação em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz e especializações em Gestão Ambiental Municipal pela Universidade Estadual da Bahia e em Educação Ambiental pela Universidade de Brasília, Kátia é consultora do Habib Assis, em Salvador.
       Também foi, durante quatro anos, diretora de Políticas Ambientais da Prefeitura de Itabuna. Nesse período, realizou seminários e palestras no sentido de sensibilizar a comunidade sobre a importância da preservação do meio ambiente.
       Ela reconhece a grave situação do Rio Cachoeira e a questão da água tratada em Itabuna, mas garante que o problema pode ser resolvido, "basta uma ação política séria boa vontade dos órgãos públicos, sobretudo o municipal".

A Região - O que é esse comitê e o que representa para o Sul da Bahia?
       O Comitê das Bacias do Leste é um processo que visa democratizar a participação da sociedade nas políticas públicas de gestão de recursos hídricos. É um trabalho pioneiro no Sul da Bahia, onde conseguimos agregar os vários setores no intuito de trabalhar a questão técnica e a educação ambiental, para resolver a questão da Bacia do Leste, integrada pelos rios Almada, Santana, Una, Cachoeira e Aliança.

AR - Quem mais integra esse projeto?
       Todas as instituições públicas federais, estaduais e municipais, além da sociedade. Ele já passou por um amplo processo de capacitação dos integrantes e tem diagnóstico de todos os rios que envolvem a Bacia. Lutamos por esse comitê e podemos dizer que a solução para esses rios e suas cidades está diretamente ligada à vontade política de resolver as questões.

AR - Por que a senhora afirma isso com tanta convicção?
       Porque o trabalho técnico já existe, feito pela Uesc através do Núcleo de Bacia Hidrográfica e pela Superintendência dos Recursos Hídricos. O que se necessita hoje é a vontade política de ir à frente, de investir na conscientização da comunidade, de investir no saneamento e na educação ambiental.

AR - Mas para se investir num projeto é preciso recursos...
       Os recursos estão disponíveis, mas só poderão ser liberados quando o comitê existir de direito, porque o Governo da Bahia não tem uma lei que institucionalize os comitês de bacias hidrográficas. Mas já foi assegurado pelo governo estadual que essa nova lei ambiental irá trazer no seu bojo os ditames para a formação dos comitês de bacias. O CBL já avançou, se estabeleceu e vem desenvolvendo um trabalho importante.

AR - A senhora acredita que haverá andamento desse projeto ou será engavetado?
       Existe a perspectiva de renovação da diretoria, composta pela Amurc na presidência, a prefeitura de Itabuna como secretária executiva e a Associação dos Usuários de Água do Rio Salgado na vice-presidência. Esperamos que as pessoas que irão compor a nova diretoria dêem continuidade a esse trabalho já inicializado, porque o comitê é uma gestão descentralizada e compartilhada por quem sabe dos problemas e necessidades, e onde vai buscar o atendimento universal da água.

AR - E quanto ao rio Cachoeira, existe a possibilidade de recuperação mesmo?
       O nosso rio está ligado diretamente a 12 outros que compõem a bacia do Cachoeira e o problema não pode ser discutido como uma solução só de Itabuna. Hoje a solução prevista seria investir no saneamento em todos os municípios, em educação ambiental, conscientizar sobre a preservação das matas ciliares e de uma série de fatores técnicos que estão previstos pela Secretaria de Recursos Hídricos e pela Uesc. O que falta é fazer.

AR - A senhora acredita mesmo nessa realização?
       Acredito sim, porque costumo ser otimista em tudo o que realizo e estou envolvida. E até mesmo por observar a realidade do Comitê das Bacias Hidrográficas. Acredito que o que se faz hoje no comitê é um exercício de cidadania, desvestido de partidarismo.

AR - Existe mesmo ameaça de faltar água em Itabuna, como diz o prefeito?
       Eu acho que está havendo terrorismo quanto à possível falta d'água em Itabuna. Passamos os últimos quatro verões com estiagem e em nenhum momento se falou em colapso de água na cidade. Isso nos causa estranheza, porque acreditamos que mecanismos podem ser usados para manter o abastecimento numa cidade como Itabuna.

AR - Mas existe déficit de água em Itabuna?
       Existem complicações e dificuldades técnicas de rede sim, mas nos últimos anos não se comentou sobre a falta de água, porque tinha um setor técnico muito bem estruturado, com engenheiros de planejamento de alto nível, comprometido com a empresa e com a cidade, como Ricardo Campos, que veio de uma empresa séria para trabalhar na Emasa. Ele deixou o setor muito bem estruturado, com a distribuição organizada e manobras setorizadas. Fazíamos em conjunto um trabalho que foi fundamental, como seminários anuais de saneamento e políticas ambientais com as comunidade, no sentido de informar sobre a preservação desses recursos.

AR - Então como analisa a informação da própria Emasa sobre o possível colapso?
       Acho que estão criando factóides políticos para se justificar a venda da empresa. A Emasa é uma empresa viável e o que está acontecendo, eu acredito, é incompetência até para fazer as manobras de distribuição em todos os bairros.

AR - Na administração da passada havia um slogan que sugeria água para todos...
       É bom que não se confunda o slogan passado de "água para todos" com água todos os dias porque, como acompanhei de perto o trabalho, novos bairros como Jorge Amado e Nova Ferradas, que nunca tinham recebido uma gota de água, passaram a contar com ela. Quer saber de uma coisa? Eu acho que está na hora de se descer do palanque e começar a trabalhar. A campanha já acabou e é hora de atender a população, colocando na prática os projetos já existentes.

 

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