Opinião
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23.Novembro.2013
Koko do Lordao
"Fizemos 50 anos e estamos na estrada com nome, história"
diz Clóvis de Figueiredo Leite, que você conhece como Kokó, do Lordão, sobre a banda que virou seu sobrenome. Carioca de nascença, itabunense por adoção, Kokó é filho de viajante, morou em Salvador, onde começou sua trajetória musical.
Nesta semana ele foi o entrevistado de Marcel Leal no programa Mesa Pra 2, da rádio Morena FM, onde falou dessa história de sucesso, lembrou momentos da carreira e até contou o que gosta de ouvir em casa. Confira.
Como você foi parar no Lordão?
Tudo começou em Dias D’Avila, quando Farnaite foi tocar no Country Clube e o Ritmos Lorde tocava lá também. Conheci o grupo itabunese e em 1972, seu Nélson, o dono do Ritmos Lorde, resolveu trocar os músicos para colocar uma rapaziada nova. Eu ainda estava em Salvador e fui convidado.
Tocava contrabaixo e cantava, mas não era o cantor da banda. O cronner oficial era Jou Carlos. Só a partir de 1972 virou o Ritmos Lord, depois Lordão.
Você lembra do primeiro show do Lordão?
Foi em Itagimirim na inauguração da BR 101. Na época havia faltado energia, a equipe foi a Eunápolis buscar um gerador pequeno e nem lembro se deu para tocar ou não.
Qual a formação quando você entrou?
Eu tocava baixo, Mimide a guitarra, Filemon os teclados, Basilio era no saxofone, Zé Correia na percussão e Sabará na bateria. Era um “grupão”. Sabará saiu para tratar de sua vida pessoal e entrou Regis no lugar.
A banda era voltada para o baile?
Ainda é. A raiz da banda sempre foi essa, mas o formato hoje é festa-baile-show. A melhor década foi a de 70. O “Lordes de Itabuna”, como era chamado, era muito social, tocava coisas bonitinhas, mas quando entrei comecei a destronar.
Seu Nélson dizia que eu botava limão na boca para cantar em inglês. Quando eu tocava uma musica de Terry Winter, “Sommer Holyday” o público vibrava.
E nos anos 80?
Foi outra época maravilhosa, mas diferente. Veio a evolução do axé, o trio elétrico. E, com todo respeito, quando a gente chegava para tocar o público tirava o chapéu.
A musica pode ser até ruim, mas se você trabalhar bem a musicalidade ela se transforma. Hoje existe uma equipe, mas não no patamar de um Sabará, um Mimide. Hoje a maioria se sente um músico.
O sul da Bahia tem uma tradição de ter músicos extraordinários, não?
É uma coisa da região, das famílias que vieram parar aqui. Tivemos bandas de 63 até 69 que saíram do Lordão, a exemplo das as bandas Phase, Som Apache, Os Grapis. Os anos 80 foram excelentes também.
Tivemos Jota Morbeck, Marcionilio, Margareth e veio a coisa do axé de Luís Caldas, que não é da região, mas divulgou o sul da Bahia. Ainda nos anos 80 o Lordão descobriu o Nordeste, tocando na Paraíba, Sergipe, Alagoas e outros estados nordestinos.
Tem lugar que quando o Lordão chega para tudo. Como é isso?
A gente tem muita responsabilidade com o que faz. Em Barreira, por exemplo, que vivia de batucada, bandinha e marchinha, quando a gente chegou com o Trio Lordão, despertou o público.
Temos um credito forte lá e em outros lugares, como as micaretas de Feira e Conquista. Aqui em Itabuna tinha o Baile do Havai no Grapiuna Tênis Clube. Em 1986 tinha tantos músicos que foi criada a banda Vera Cruz.
Depois Filemon e Ari saíram para fazer o Cacau com Leite. E você (Marcel) veio como o grande empreendedor que gravou a música.
Filemon gravou duas músicas fora e na volta me mostrou um DAT, que ninguém tinha por aqui, mas a Morena FM usava. Quando ouvi a música Vim Vim fiquei impressionado, em transe. Isso foi em 1991, quando compramos equipamentos digitais e colocamos a musica no ar. Foi um estouro e ajudou a colar o forró como ritmo para o ano todo. E o Lordão, quando decidiu ingressar no forró?
Foi em Ibicuí, quando cantamos Volte Logo e o pessoal começou a comentar “o forró” do Lordão. Mas não era do Lordão, era do Cacau com Leite. A gente dividia o palco e só tocavam essas duas bandas.
A partir daí, estourou o Cacau com Leite. E nos anos 90 veio o Mastruz com Leite, Magníficos e outras bandas do Nordeste. Antes não tinha produto para tocar a não ser Gonzagão.
Em 97, Cristóvão Rodrigues, de Salvador, nos convidou para fazer um disco de forró e topamos.
Mas ainda não tinha um nome, não é?
É, precisamos criar um nome para esse forró. Entrei numa agencia bancaria e vi um cartaz falandod e “elegância”, daí saiu o “forró elegante, dance que o Lordão garante” e mandei para Ninho na Paraíba. Não deu outra.
A gente botou um estilo “macumbaço” no forró. Botamos timbau, ripinique e um bocado de coisas para dar uma diferenciada. Trouxemos Bola com as músicas dele para o nosso CD e a Bahia começou a ser admirada. Em 99 gravamos ao vivo.
Voces tem 4 CD ao vivo e 5 de estúdio, mas se for contar os LPs, dá para encher uma caçamba. Todo ano vocês lançavam um novo disco?
A gente começou em 79, quando íamos gravar um programa de televisão, o “Almoço com as estrelas” e tinha que ter um playback. Mas eles sugeriram gravar logo o LP inteiro, só que demorou muito tempo e a gente nem participou do programa. Mas viemos para casa com o disco.
Minha mãe e muita gente, quando ouviu O Tempo e o Vento, no CD Jupará, pensava que era uma banda de capital. Já te falaram isso?
Muitas vezes, e olhe que as músicas foram gravadas ali na Beira Rio, bem itabunense. O CD Jupará foi muito importante para divulgar a música daqui. Tem uma boate em Juazeiro que até hoje a abertura é feita com a musica de Fernando Caldas com Natália Roux. E olhe quantos anos tem isso...
E o sucesso absurdo quando o Lordão apareceu em Itabuna com o ônibus “envelopado”?
Tinha salva de palmas quando passávamos na rua. A gente começou com uma jardineira da Mercedes, depois vieram o da Ciferal, da Marcopolo. No ano passado compramos um leito, mas até o momento ainda não chegou a inspiração para a nova plotagem.
O que sempre me chamou a atenção foi que o Lordão não usa playback em show. Ele já usou?
Não, porque você tem que ter a punção, o grude humano, o músculo. Mas hoje está se usando muito nos shows o samper, para acrescentar viola, violão, certos instrumentos difíceis, mas é tudo ao vivo.
Nos anos 70, quando virei músico, me especializei em blues e em Tim Maia. Tenho 32 discos dele e não paro de ouvir. Ele tem momentos maravilhosos. Ele cantando “aquele abraço”, de Gil, com um arranjo maravilhoso é de tirar o chapéu.
Há 15 dias fomos tocar em Salvador e ninguém acredita que somos do interior.
Voce já teve problema com produtor ou empresário?
Nunca tivemos empresário nem produção. O Lordão ainda é uma banda familiar e a responsável pelos seus próprios passos. As pessoas não vestem a mesma camisa do outro. Fizemos 50 anos em 2012 e estamos ai na estrada com nome, história e respeito.
O que você costuma ouvir em casa?
Adoro discos de dueto, como os de Andrea Bocelli, Rod Stewart com a filha dele, e outros não só internacionais mas os nacionais também. Antes de acabar, quero agradecer o espaço que a Morena FM sempre abriu não só para o Lordão como para todos os artistas grapiunas, coisa que ninguém faz.
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