Opinião
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22.Junho.2013
Rafael Lucchesi, diretor do Senai
“O aluno precisa de sistema de ensino mais interessante”
defende o diretor do Senai, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e diretor de Educação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Rafael Lucchesi.
O economista é responsável por 65 unidades (serão 66 em breve) do Instituto Senai técnico de educação e 28 unidades de tecnologia, que asseguram a formação de mais de 2 mil jovens por ano. Segundo ele, nos próximos anos o número de vagas nas unidades terá aumento de 50%.
Confira o que ele pensa nesta entrevista exclusiva ao jornal A Região.
O senhor disse que temos escola do século 19, professores do 20 e estudantes do 21. O quis dizer?
Que precisamos exigir mais do nosso sistema educacional. A escola necessita ser modernizada e professores ainda mais capacitados. Precisamos de um sistema mais interessante para os alunos. Hoje temos um alto índice evasão escolar e baixo aprendizado porque o estudante não consegue relacionar o que está vendo no ensino médio com que aprende na vida.
Por que isso?
Isso se deve à falta de contextualização entre a vida dos jovens e o que é dado na escola, muitas vezes assuntos ultrapassados e falta de acesso às tecnologias. O Brasil poderia ter um número muito maior de jovens fazendo a educação profissional junto com o ensino regular.
Quantos frequentam os sistemas regular e profissional?
Só 6% têm educação profissional junto com a regular. Na média dos países desenvolvidos esse número é de 42%. Na Alemanha é de 53%. Precisamos avançar mais na discussão de uma educação que assegure a formação e o trabalho.
Por que o índice de desemprego entre os jovens é alto?
O Brasil tem uma situação de pleno emprego, com taxa geral de 4,7%. A Alemanha vive uma crise, mesmo assim o desemprego é muito baixo entre os jovens de 18 a 24 anos. O nosso país tem índice de desemprego entre os jovens de 12%.
Como avalia a situação na Bahia?
O governo da Bahia tem feito um esforço bom nesse sentido. Tem avançado muito na educação profissional, com cursos técnicos em diversas áreas. Já os municípios podem contribuir mais, melhorando a qualidade do ensino fundamental, que é a base.
O governo federal destina um bom valor para a educação?
A educação precisa de mais dinheiro, mas isso não pode ser samba de uma nota só. É necessário que a verba seja melhor gerenciada, que as escolas contem com diretores mais técnicos. É necessário que o profissional da educação seja reconhecido não só pelos títulos, mas pelo conteúdo dado.
É uma combinação de fatores?
Sim. Temos que combinar mais recursos para a educação com esforço maior pela qualidade na gestão. Precisamos ter uma escola com qualidade de ensino. Precisamos de estudante que conheça as novas tecnologias, que saiba operar as máquinas modernas.
O custo da produção tem aumentado muito. Por que?
Temos problema sério de competitividade provocado pelos juros, câmbio e precariedade da infraestrutura. Ainda enfrentamos a insegurança jurídica, burocracia e custo do trabalho, que tem subido muito. Em dólar, o custo de hora trabalhada no Brasil se aproxima de US$ 11,5 e o do México está em US$ 6. Por isso, está difícil competir. Às vezes o grande investimento vai para o México e não para o Brasil, o que a médio e longo prazo causa uma série de dificuldades.
Temos a cultura de que só diploma universitário garante emprego...
Essa é uma ideologia firmada no período do milagre econômico, quando havia arrocho salarial na base e salários diferenciados para a formação universitária. Hoje a realidade é outra. O salário inicial é muito atrativo para quem tem formação técnica. Acima de R$ 2.100 na fase inicial e, com 10 anos de mercado, R$ 5.700. Além disso a juventude pode ingressar mais cedo no mercado e continuar os estudos.
A falta de qualificação é um entrave para o crescimento?
A baixa qualidade de mão de obra prejudica a produtividade, reduz a competitividade, diminui os empregos, interfere na geração de riquezas e no desenvolvimento. Precisamos melhorar bastante a formação no Brasil.
Colocando os jovens como prioridade?
Não podemos perder a juventude. Temos que encaixá-la melhor num sistema educacional que influa diretamente no que ela vai fazer depois. Não podemos ter um sistema de educação de exclusão, que orienta pouco mais de 10% dos que vão para a universidade.
Como tratar essas questões nos municípios?
Precisam criar redes de reflexão sobre os projetos sociais e colocar a educação no centro. O Brasil que sonhamos vai depender da educação que fazemos. Se contarmos com um sistema educacional sólido, remunerando bem os professores, tendo salas de aula em boas condições, equipamentos modernos e conteúdo de qualidade, teremos avanço.
De que maneira as instituições e a sociedade podem dialogar?
A discussão não deve se passar apenas de quatro em quatro anos, nas eleições. Elas devem ser um processo permanente. As instituições de conhecimento têm que refletir, debater e participar sobre as escolhas. Essa agenda a Prefeitura de Itabuna está fazendo bem. Ela está buscando essa interlocução, a construção desses novos canais da agenda política.
O senhor diz que alguns artigos na Constituição não fizeram bem. Poderia explicar?
O que falei é que a Constituição tem 74 vezes a palavra “Direito” e duas vezes “Dever”. Precisamos repensar isso. Necessitamos de um sistema que premie a competência. O regime jurídico único dificulta a valorização do bom profissional. Temos que assegurar que o professor, o diretor de escola, que obteve o melhor resultado possa ser reconhecido e premiado.
E os investimentos em tecnologia e inovação?
É uma agenda fundamental para o desenvolvimento local. Pelo que tenho percebido, a Prefeitura de Itabuna está comprometida com essa agenda. Ela deve pensar novos desafios da estrutura municipal para o desenvolvimento econômico, que passa pelo empreendedorismo. No geral, os municípios precisam de inovação, governo eletrônico, elementos novos, irradiadores do futuro.
O que diria para o jovem que está em dúvida sobre a carreira?
Aposte em educação profissional, que é o melhor passaporte para o seu futuro e uma das maneiras de contribuir para o desenvolvimento. Você vai ingressar mais cedo no mercado de trabalho e ajudar a construir um Brasil mais produtivo e eficiente. O estudante pode inclusive se valer disso para fazer uma graduação no curso em que sonha. Ainda mais se for uma pessoa de poder aquisitivo baixo. O curso técnico é um passo para o superior.
O que ajudaria a melhorar a situação da indústria?
Um esforço maior das empresas na inovação, com maior capacidade de alavancar políticas públicas. E um sistema educacional que dê atenção para o trabalho. Isso vai significar mais trabalhadores qualificados e melhor remunerados, mais empregos e empresas mais competitivas, um circuito virtuoso de desenvolvimento econômico e social, em que todos saem ganhando.
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