22 de Novembro de 2003

"O turismo de Ilhéus precisa de muito trabalho"

       afirma um dos pré-candidatos a prefeito de Ilhéus pelo PFL, o empresário Marcelo Mendonça. "As decisões serão tomadas a favor de Ilhéus, não por amizade ou conveniência para agradar a pequenos grupos".
       Além de empresário, Marcelo Mendonça é coordenador do Grupo de Ação Comunitária, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas, vice-presidente do Centro de Pesquisas de Informática, por duas vezes foi presidente da Associação Comercial de Ilhéus e ocupou o cargo de vice-presidente na Federação das Federações Comerciais da Bahia.
       Marcelo Mendonça também foi um dos coordenadores da campanha pela reconstrução da BR-101, liderou o movimento de revitalização do Porto do Malhado e a construção do Terminal Alfandegado de Ilhéus.

A Região - O senhor foi para o PFL nos últimos dias de prazo para filiações. O que o levou a esta mudança?
       A mudança decorreu da necessidade que eu tive de manter a minha coerência política. Há anos estávamos trabalhando no PPS com uma candidatura própria, mas descobrimos que integrantes do partido estavam anunciando uma grande frente de oposição, juntamente com o PT. Eu não concordava e, como empresário, não me sentia a vontade no PT.

AR - No PFL, o que será decisivo para a escolha de um dos nomes?
       Provavelmente, os candidatos serão indicados por Antônio Carlos Magalhães, pelo governador Paulo Souto e pelo prefeito Jabes Ribeiro. Creio que eles vão avaliar as condições dos pré-candidatos baseados em vários critérios, não somente de densidade eleitoral, mas também por quesitos como rejeição, ética, postura etc.

AR - Não há uma contradição entre o senhor falar em mudança e ser apoiado por Jabes Ribeiro?
       Para construir algo na vida o indivíduo precisa de ajuda, ninguém vai a nenhum lugar sozinho. O mesmo ocorre na política. O futuro prefeito não conseguirá traçar um bom plano político para uma cidade com o porte de Ilhéus sem uma parceria. Se eu estiver aliado a ACM e Souto será continuismo ou será melhor para Ilhéus?

AR - Ou seja, quer o apoio deles mas quem vai governar é o senhor?
       Amizade é uma coisa, subserviência é outra. Você ser independente e amigo é bastante positivo. Se tiver que tomar uma decisão que seja mais confortável para Ilhéus tomarei independente do partido ou das amizades que tenho.

AR - Na sua opinião, qual a grande obra do governo Jabes Ribeiro?
       O Banco do Povo é uma grande obra. Ainda hoje eu estava na minha empresa quando fui procurado por uma baiana de acarajé que me pediu R$200 para comprar uma máquina de descascar feijão para fazer a massa, pois a dela tinha queimado. Eu disse a ela: vá ao Banco do Povo e se identifique que você vai conseguir o dinheiro. Depois ela voltou, me deu um abraço e um beijo e disse que eu ia comer acarajé de graça a vida toda porque ela conseguiu o dinheiro. Isso é uma coisa de grande utilidade.

AR - Mas é muito pouco para uma cidade do porte de Ilhéus.
       É bom lembrar que Ilhéus foi uma das poucas cidades do Brasil a receber da Fundação Airton Senna o título de Escola Campeã. É válido ou não é? Existe o projeto Viva Morro. A prefeitura já fez a contenção de várias encostas, além da construção de escadarias. São obras importantes, mas nunca vai chegar a uma satisfação de 100 % porque a sociedade sempre quer mais, o que é natural.

AR - Sobre o pacote de obras prometido pelo estado, o que isso tem de prático?
       Pelas conversas que temos com o prefeito Jabes Ribeiro, o montante ultrapassará os R$30 milhões. Prova que a parceria é válida. Está dando até uma sobrevida ao prefeito Jabes Ribeiro. Se não fosse essa parceria, as dificuldades seriam bem maiores.

AR - Existem troca de acusações entre os hoteleiros e a prefeitura na tentativa de justificar o fraco desempenho no turismo. Se eleito, o que pretende fazer?
       Eu diria que são divergências perfeitamente contornáveis. Falo com propriedade porque também vivo do turismo e eu sei quais as necessidades deles. Temos muito para fazer pelo turismo de Ilhéus se quisermos colocá-lo no cenário brasileiro, ou até mundial. São coisas que demandam dinheiro e tempo. Ilhéus precisa de muita coisa. Mas os governos passados deram prioridade, com uma certa razão, ao mais pobre. Sei que devemos olhar primeiro para a classe menos favorecida, mas precisamos também gerar empregos.

AR - Porto Seguro e Itacaré recebem mais turistas do que Ilhéus. Como o senhor avalia essa situação?
       Isso se deve a um profissionalismo maior de Porto Seguro, que não tinha a tradição do cacau como tinha Ilhéus e Itabuna. Essa monocultura de certa forma foi prejudicial, pelo individualismo criado. O que se procura hoje também são lugares inóspitos. Naquela época, para você ir de Ilhéus para Porto Seguro levava um dia e era gostoso ir para um lugar difícil. Hoje as pessoas estão buscando a Barra Grande, Itacaré, justamente porque são lugares inóspitos. Eles querem buscar a cachoeira, o riacho, aquilo que ele já não está encontrando no dia-a-dia no centro da cidade. Depois de algumas pessoas conhecidas nacionalmente, como o deputado Fernando Gabeira, ter indo a Porto e até aparecer de sunga, criou-se uma gritaria nacional e o município aproveitou isso par criar um certo mito na cidade.

AR - E porque os representantes de Ilhéus não tiveram idéias similares?
       Não nos preocupamos com isso porque tínhamos o cacau. Sem o cacau, Ilhéus precisa descobrir uma nova vocação. Itacaré está se aproveitando até de erros cometidos por Porto Seguro e pela inércia de Ilhéus, atraindo pessoas importantes como Silvio Santos, Roberto Marinho e Guga. Eles compraram terras e passaram a divulgar a cidade nacionalmente. É importante lembrar que os empresários também fizeram o dever de casa.

AR - Quais as medidas que o senhor pretende adotar para incrementar o turismo?
       Se colocarmos o PET (Plano Estratégico de Turismo) em prática já daremos grande avanço. Esse é o plano que foi elaborado por empresários de Ilhéus com o apoio de Marcel Leal e outros, é excelente e, se eleito, vamos colocá-lo em prática. Aliás, vamos brigar ainda para incluir Itabuna na Costa do Cacau. Itabuna fica a apenas 25 quilômetros e dispõe de estrutura para fazer parte da Costa do Cacau.

AR - E os altos preços praticados em Ilhéus?
       Quando a gente compara os preços de Ilhéus com os de localidades como Barra Grande você vê que os preços de Ilhéus são baixos. Eu acho que poderiam ser mais baixos, mas acredito que os preços praticados em Ilhéus ainda são menores do que os de Itacaré, Porto Seguro e Barra Grande. Quando tivermos pessoas competentes para explicar que os preços devem estar adequados à realidade do turista eu tenho certeza de que estaremos com os preços mais competitivos.

AR - Se eleito, quais as alternativas para diminuir a violência em Ilhéus?
       A segurança é dever do estado, não compete às prefeituras, mas eu acredito que a solidez da parceria entre Jabes Ribeiro e o governo estadual coloca Ilhéus em situação até privilegiada, baseado no que disse o secretário estadual de segurança em recente congresso. Ele afirmou que os indicadores de Ilhéus são menores do que o de qualquer outra cidade do mesmo porte.

AR - Mas é um índice alto...
       É verdade. O cidadão deve estar protegido de qualquer maneira. Cabe ao governo do estado dirigir a questão da segurança. Se você leu os jornais, está vendo que Ilhéus é a primeira cidade a receber o Batalhão da Operação Beijupirá. Com isso Ilhéus vai ter um tratamento diferenciado para dar segurança à população e aos turistas. Eu já acho a segurança fundamental e basearei os meus esforços no sentido de buscar junto ao governo do estado reforço policial para ser colocado à disposição de Ilhéus e da região.

NR - O PET foi produzido por Marcel Leal, Afonso Maria Zeni e João Vicerini com base no resultado do I Forum de Turismo de Ilhéus, promovido pela rádio Morena FM 98.7, jornal A Região e agência Costa do Cacau no hotel Barravento, em fevereiro de 2000.