Opinião
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12.Abril.2014
Naomar Monteiro Filho, reitor da Ufesba
“Vamos facilitar a entrada, mas vamos regular a saída”
diz o professor Naomar Monteiro Filho, reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Ufesba, sobre a entrada de alunos educacionalmente deficientes no curso superior. Ele conta que só os que estiverem “no terço superior de notas” poderão se formar.
A conversa foi com o jornalista Marcel Leal, durante o programa Mesa Pra 2, da rádio Morena FM (quartas, 15h), onde Naomar contou mais sobre o projeto inovador da Ufesba, as primeiras dificuldades e o andamento do empreendimento. Confira.
Como está a procura por parte dos professores?
A procura é muito grande, o que é ótimo para selecionarmos a melhor proposta. Fizemos três chamadas públicas para convidar colegas de outras universidades a apresentar propostas de pesquisa, extensão e ensino. Foi uma resposta fantástica, com mais de 600 proponentes, pessoas de qualidade acadêmica muito elevada. Grupos de pesquisas inteiros estão vindo. A exigência é de doutorado, com salário inicial de mais de R$ 8 mil. O cargo de professor adjunto permite progressão para associado, se o professor já tem experiência. Nessa primeira semana já temos mais de 200 inscritos.
Pessoas de outros estados tem elogiado o projeto. Como souberam?
Produzimos uma versão executiva chamada Plano Orientador da Universidade e colocamos na rede. Já tem mais de 5 mil acessos. Muita gente acha que o trabalho é maior quando começamos do zero numa universidade, mas é mais desafiante e podemos inovar.
Como está a montagem dos colégios universitários?
Estamos encontrando um consenso. Ele consiste em o aluno estudar um ano, no máximo dois. Já assinamos convenio com o estado, que disponibilizou toda a capacidade ociosa da rede estadual. Já fizemos a última vistoria e temos indicação para novos municípios.
As aulas serão por videoconferencia?
É mais que isso. Chamamos de ensino mediado por tecnologia. Teremos professores doutores no local. A grande diferença entre assistir uma videoconferencia pela internet é que você não pode falar nada. No nosso caso não, temos um mediador localizado. Os alunos que tiverem o privilégio da presença serão tutores de colegas na rede.
As pessoas vão concorrer a vagas a partir de quando?
Agora no meio do ano, via Enem-Sisu. Os alunos dos colégios universitários terão prioridade e haverá uma cota de 85% para alunos de escola pública. Significa que alunos de Nova Viscosa, Coaraci e outras localidades poderão fazer a opção no Sisu. É nossa fórmula para ter mais estudantes da própria região, um problema comum nas outras universidades.
Como você avalia o nível do Enem? Ele mostra capacidade para o ingresso?
Eu sou entusiasta do modelo do Enem. Mas acho que a gente deveria fomentar mais a entrada na universidade e regular a saída. Nesse sistema que introduzimos, a gente certifica a passagem do aluno, mas ele vai ter que se virar para receber o certificado de saída. A universidade brasileira se organizou de tal modo que, uma vez dentro, as facilidades de conclusão são enormes. A gente quer inverter essa lágica. Facilitar a entrada e regular por conhecimento e meritocracia.
E quem não tem competência para se formar?
A gente certifica a passagem se ele completa, com sucesso, aquele ano que fez no colégio universitário. Ganha um certificado de curso sequencial. Mas para completar ele terá que estar no terço superior de desempenho. É o que vai permitir que entre no segundo ciclo. No nosso modelo ele entra na universidade, depois escolhe o bacharelado em saúde e, se for aprovado, pode postular o curso de medicina. Mas para isso ele precisa se posicionar entre as notas mais altas.
O colégio universitário pode impactar o ensino médio?
De diversos modos e o mais direto é o simples fato de existir ali. Existe hoje uma desistimulação entre os alunos do interior. A pergunta é, por que eu vou completar o ensino médio se o emprego não exige e daqui não vou para lugar nenhum? Com o colégio universitário, surge um horizonte. O segundo impacto vai ser demanda por qualidade do professor. E o terceiro é que a gente pretende que os colégios universitários também formem futuros professores.
Só há pouco tempo estão exigindo formação de professor de nível superior.
Existe muita improvisação. Os concursos que se abrem para o ensino fundamental ou médio ainda são disciplinados. Não se consegue um licenciado em física para prestar concurso no interior. Ele não tem interesse. O que vamos regular no colégio universitário é que alguns alunos busquem a formação de professor polivalente. Aliás, foi um susto conhecer os níveis de desigualdade na educação no sul da Bahia, um dos piores do Brasil. De cada 10 alunos do fundamental apenas 1 passa para o médio.
Muitos alunos que chegam ao médio não sabem ler ou escrever. Como melhorar?
O jovem que tem potencial sofre limites, mas só vamos saber dessa dificuldade se trouxermos ele para o colégio. Se seleciona com testes que excluam, tira a chance dele. Temos boas surpresas na região, com boas escolas. Em geral é um diretor que saiu de um grande centro e buscou qualidade de vida no interior. O salario é miserável, mas numa cidade pequena, em geral o melhor é o do professor.
O novo modelo pode melhorar isso, não?
O modelo vai permitir que as universidades se tornem mais conhecidas e as pessoas da cidade maior vão buscar a pequena cidade para entrar na universidade via colégio. Isso é muito positivo. Os prefeitos estão entendendo esse processo e a população também.
A sede da Ufesba em Ferradas já está em funcionamento? E bibliotecas e laboratórios?
Sim, já temos pessoal trabalhando e eu inclusivo atendo lá. É importante que as bibliotecas sejam instaladas nos Campi, mas “Bibliotecs”, ou seja, bibliotecas tecnológicas. Se comprarmos coleções de livros nas estantes, por mais que circulem, o alcance é mínimo, mas se forem e-books pode se multiplicar para quantos quiser.
E quanto aos laboratórios, serão instalados nos campi?
Sim, estamos buscando parceiros com os institutos federais. A Ceplac tem um laboratório de solos fantástico e está operante. Certamente a Uesc tem equipamentos maravilhosos, como a genômica. Nossa ideia é fazer consorcio para que o investirmos cubra lacunas e não crie redundâncias.
A Ufesba vai usar o nosso “elefante cinza”, que seria centro de convenções?
Já visitamos a área, mas existem duas questões. Uma é custo de conclusão, R$ 19 a 25 milhões. O outro é a titularidade da área. Levei a proposta para a Casa Civil do estado. O pre-candidato Ruy Costa disse que não está previsto no orçamento deste ano, mas no próximo seria possível. Lá se implantaria um grande salão e a reitoria.
E quanto ao terreno próprio para a Ufesba?
Já postulamos a área de Ferradas. A Ufesba quer adquirir, mas existe uma diferença entre o custo estimado pela CEF e o que os proprietários pedem. Tivemos muitas ofertas, mas temos problemas de topografia. De qualquer forma, se aquela área começa a ser um parque industrial de Itabuna, o centro de tecnologia cabe perfeitamente bem nela. Mas com a Ceplac estamos planejando implantar um centro de ciências agroflorestal, sem pressa, porque as instalações de Ferradas são suficientes. Nos outros Campi, a Suzano doou uma área de mais de 40ha na parte mais nobre em Teixeira de Freitas e em Porto Seguro o estado cedeu o centro de convenções.
Depois de engatada, quais os planos da Ufesba?
A pós graduação, num prazo de 2 a 3 anos. O conceito já começa a ser trabalhado. É um repertorio de residências não só médica, mas nas prefeituras para politica publica, residências portuárias, de comunicação e industrial. O detalhe é que a tese deve resolver uma coisa especifica.
Qual a previsão de funcionamento da Ufesba?
Está mantida a data para setembro, com 600 vagas para entrada direta, sendo 200 em Itabuna, 200 em Teixeira e 200 em Porto para alunos. Vamos usar o Enem/Sisu e os alunos podem ficar atentos para o edital em maio ou junho, e nos colégios universitários pelo menos mais 600 vagas. Dos 18 municípios que visitamos, 9 já começam neste ano e o restante até maio do ano que vem. A aula inaugural será de Boaventura de Souza Santos, doutor em sociologia por Yale.
O que foi mais difícil nessa primeira etapa?
A gente mostrou ao MEC que esse é um projeto viável e que preenche uma serie de requisitos normativos. A questão é que a legislação brasileira é muito velha. Sobre a educação à distancia é do tempo que ainda se usava televisão. Em 15 anos o mundo mudou muito. Vamos ter que mudar a legialação para encaixar o projeto.
Como será a rotina dos professores?
Aqui na região se tem um salario inicial perto de R$ 9 mil, então é dedicação exclusiva. Os docentes terão seu tempo de atividade acadêmica e dentro disto está prevista a parte de elaboração de aula, com o sistema mais digital. Vamos exigir do professor a administração da aula. Em maio teremos muito mais novidades sobre a nossa Ufesba e contarei primeiro aqui na Morena FM.
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