Opinião
|
TheBigDoor.com
21 de Fevereiro de 2004
Norma Sampaio, diretora do Colegio Objetivo
"Foi o governo quem legalizou o calote nas escolas"
afirma Norma Sampaio Silva, referindo-se à lei que determina que os alunos não podem ser rejeitados por causa da inadimplência. Graduada em Pedagogia, com habilitação em orientação escolar, ela atua na área de educação há 20 anos, estando à frente do Colégio Sagrado Coração de Jesus / Objetivo há 13 anos.
Ela diz que a atuação do Colégio Sagrado Objetivo é a concretização de um sonho, acalentado com o objetivo de promover um ensino de qualidade, colaborando de forma efetiva com a formação pessoal dos educandos.
Num âmbito geral, afirma que Itabuna tem se destacado no setor e, independente do número de escolas existentes na cidade, há espaço para todos. Veja os principais trechos da entrevista.
A Região - Que avaliação a senhora faz da educação em Itabuna?
Uma avaliação positiva, já que Itabuna está bem servida de boas escolas em todos os níveis. Como educadora tenho acompanhado os investimentos na escola pública, tanto municipal quanto estadual. Me regozijo com esse progresso porque o profissional comprometido com seu papel de mestre deseja que a educação esteja alcançando seus objetivos em relação ao papel social que desempenha na sociedade.
AR - Como a senhora vê o comprometimento dos profissionais da educação?
Ainda que seja a passos lentos, é notório que o profissional da área de educação tem despertado para a importância da educação continuada pois, sendo qualificado, ele estará apto a promover as mudanças necessárias na educação em nosso país. Como diz o ditado popular, "só quem tem paixão de aprender tem paixão de ensinar".
AR - A inadimplência é um fator que persegue as escolas particulares. O que fazer?
A inadimplência é um problema grave, que atinge as escolas particulares em todo o país, comprometendo seriamente as instituições. A sociedade assiste de forma passiva sem se dar conta de nossa importância. Poucos são os segmentos que geram tantos empregos. Só em nosso colégio somos responsáveis por 75 empregos diretos. Que outros segmentos geram tantas oportunidades de trabalho?
AR - Qual o maior problema enfrentado pelas escolas em relação à inadimplência?
Primeiro devo lembrar que foi o governo quem instituiu e legalizou o calote, onde a escola fica impotente porque ele usa como argumento não expor os alunos a situações vexatórias. Isso impede que sejam desenvolvidas ações para reverter o quadro. O que observamos é que o pai que tem dificuldades, desempregado, busca sempre a escola para negociar. Em nosso caso, sempre estamos abertos para encontrar meios de resolver estas situações.
AR - Então o caloteiro, na maioria das vezes, é quem está empregado?
Verdade. O pai que realmente deve à escola o faz porque não prioriza a educação e porque está amparado por uma lei injusta. Enquanto isso, continua mantendo um padrão de vida elevado e fazendo o chamado "ping-pong". Deve um ano inteiro em uma escola, transfere o filho para outra, assim sucessivamente.
AR - O que as escolas podem fazer?
Em primeiro lugar se profissionalizar, atuar com empresa, abandonando o amadorismo e as improvisações. Adotando um modelo administrativo que valorize o pagamento salarial e ao mesmo tempo reduzir custos na manutenção da instituição, investir em recursos apenas se houver de fato uma margem de segurança para tal.
AR - A escola particular tem perdido muitos alunos para a pública. Como vê essa situação?
O educador verdadeiro pensa a educação como um todo e vislumbra uma educação de qualidade independente do seu órgão mantenedor, seja público ou privado. Podemos observar que depois de vários anos o cenário da escola pública sinaliza mudanças efetivas, pois o investimento na capacitação do professor é uma realidade, os recursos têm de fato chegado às escolas e isto está trazendo resultados positivos, embora ainda exista um longo caminho a percorrer.
AR - Como a senhora encara o fato da maioria dos estudantes das faculdades públicas serem provenientes de escolas particulares?
Investir na qualidade do ensino, na capacitação do professor e na remuneração do docente seriam medidas que certamente iriam colocar os alunos em condições de igualdade para competir a uma vaga na faculdade pública. Conteúdos cumpridos, planejamentos realizados, investimento na auto estima do alunado dispensaria o atalho das cotas para este e para aquele, uma medida discriminatória.
AR - As escolas particulares também têm promovendo outros tipos de projetos...
As escolas começam a desenvolver algumas ações no sentido de um maior envolvimento com projetos e movimentos comunitários, muito embora o alunado, ainda sem uma consciência plena do seu papel como cidadão, prefira aderir com mais entusiasmo a eventos festivos.
AR - Como avalia a aprovação no vestibular de treneiros e alunos que não fizeram cursinhos?
Vários fatores podem influenciar a aprovação de treneiros, como o potencial e a ausência da pressão e da cobrança pela aprovação. Também o aluno leitor tem possibilidade de alcançar bons resultados independente da sua escola de origem, a depender do curso a que está concorrendo.
AR - A cada ano sua escola investe em novos cursos. O retorno tem sido o esperado?
Iniciamos há 13 anos e nosso colégio ministrava apenas os cursos do ensino fundamental (1ª a 4ª série). Gradativamente, de forma pensada e planejada, fomos estendendo os cursos para educação infantil e o ensino fundamental de 5ª a 8ª série, e finalmente implantamos o ensino médio, formando a primeira turma em 2003.
AR - Como foi o desempenho dessa turma de 3º ano nos vestibulares de 2004?
Foi um resultado brilhante e inclusive histórico, pois nosso principal objetivo era aprovar os alunos sem a obrigatoriedade dos mesmos passarem por cursinhos de pré-vestibular. Tivemos muito êxito, fruto do trabalho sério, comprometido e do ensino com qualidade que ministramos.
AR - Quantos alunos conseguiram a aprovação?
Nosso 3º ano funcionou com 23 alunos e tivemos a aprovação em vários cursos e faculdades do país. Duas alunas foram aprovadas em medicina, uma em odontologia, tivemos aprovação em medicina veterinária, fonoaudiologia, fisioterapia, direito, enfermagem engenharia ambiental, psicologia. Ainda estamos aguardando resultados da Uneb e Uesb e a 2ª chamada de vários cursos. Conquistamos também o 1ª lugar na Escola Baiana de Medicina com a aluna Flávia Peixoto Campos Lima, que estuda conosco desde a 1ª série. O 1ª lugar na EBM em Salvador, onde nossa aluna concorreu com estudantes preparados de vários colégios de lá, é um fato histórico.
AR - Que conselhos daria para os alunos que desejam ser aprovados no vestibular?
Que acreditem no seu potencial, estudem no mínimo 4 a 5 horas por dia, que tenham objetivos definidos, mas sobretudo cultivem a humildade e a fé em Deus pois, tanto nos estudos como na vida, para uma estrela brilhar não se precisa apagar outra.
|
|