Opinião
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17 de Setembro de 2005
Nélson Pellegrino, deputado federal do PT
Pellegrino ataca FHC e diz que o PT se desviou
da agenda de reformas da política brasileira. Um dos deputados federais de maior expressão do PT baiano, há cerca de uma semana Nelson Pellegrino esteve no sul do estado em contato com as suas bases e fazendo campanha para as eleições internas da sigla.
As eleições acontecem neste domingo, dia 18. Ele também concedeu esta entrevista exclusiva ao A Região e falou sobre a crise no Partido dos Trabalhadores, no governo Lula e acredita que hoje são menores as chances da oposição fazer o sucessor de Paulo Souto.
O deputado, várias vezes incluído na lista dos melhores parlamentares pelo Departamento Intersindical da Atividade Parlamentar (Diap), acredita que a crise vivida pelo governo federal "é grave", mas diz não concordar que seja a "maior da história do País".
A Região - A que se deve a sua visita ao sul da Bahia?
Estamos num processo interno de eleições no PT. Por isso, estamos participando de debates sobre a crise política e a situação do partido.
AR - Como o senhor vê as denúncias envolvendo a Câmara, a base aliada e membros do governo Lula?
Acho que a crise é grave, mas não concordo com o que se tem dito, que é a maior da história do País. O mais importante é que o Congresso Nacional está apurando e os culpados serão punidos.
AR - Mas é um escândalo que não se sabe o tamanho. Todo dia há uma surpresa...
É preciso também dizer que nunca se apurou tanto e combateu a corrupção como no governo do presidente Lula. Sou parlamentar há 15 anos, fui deputado de oposição durante 8 anos na Assembléia Legislativa da Bahia e nunca consegui instalar uma CPI, apesar de existirem várias denúncias contra o governo do estado.
AR - Mas existem fortes indícios de que foi usado dinheiro público em todo esse esquema de corrupção...
Há indícios sim. Eu acho que eles têm que ser apurados. As CPIs do Mensalão, dos Correios e dos Bingos estão em pleno funcionamento e o resultado final dos trabalhos será apresentado ao País.
AR -O PT já foi o partido de maior credibilidade no país. Porque tantos erros em tão pouco tempo de governo?
Acho que o erro maior foi se deixar envolver pelo sistema eleitoral e partidário. Sou defensor do financiamento público de campanha e da fidelidade partidária, e contra as doações privadas. Hoje estamos atacando muito a febre e esquecendo de tratar da doença, que é o atual sistema eleitoral e partidário.
AR - Mas isso justifica tantos equívocos?
O que está ocorrendo não envolve a maioria dos filiados do PT. A sociedade sabe quais as ações da maioria dos nossos prefeitos, governadores, vereadores e deputados. A maioria nunca teve seus nomes envolvidos em esquemas.
AR - Que avaliação o senhor faz do governo do seu partido?
É um governo que tirou o Brasil de uma grave crise econômica, que não conseguia pagar suas contas externas, com inflação subindo, e que estava extremamente endividado. A oposição dizia que o presidente não governaria por um ano e ele conseguiu colocar ordem na casa.
AR - Mas, e os resultados?
Tivemos um superávit nas contas externas em 2003, temos o maior crescimento econômico dos últimos 11 anos e redução no número de desempregados. O melhor é que temos um crescimento de forma sustentada, possibilitando a criação de mais de 3,5 milhões de empregos formais.
AR - Não é pouco?
Temos 8 milhões de pessoas no Bolsa-Família, linhas de crédito de cerca de R$ 9 bilhões para a agricultura familiar, mais de 2 milhões de pessoas atendidas pelo Sorridente, que é o maior programa de saúde bucal da história. Antes as famílias carentes só tinham como opção extrair o dente, hoje elas podem fazer o tratamento. Criamos programas como Samu 192, na área de saúde, e aumentamos o número de vagas gratuitas no ensino superior.
AR - O senhor não acha que tem se investido muito pouco na infra-estrutura?
Acho que não. Existiam no país 20 mil quilômetros de estradas federais sem nenhuma condição de tráfego. Desse total, 7 mil quilômetros foram recuperados e a meta é chegar a 14 mil até o final do governo. Então, em quatro anos vamos ter dois terços das rodovias que estavam há mais de 20 anos danificadas.
AR - Quais os principais erros do governo do PT?
O primeiro foi abandonar a reforma do estado brasileiro. Tínhamos que ter feito a reforma do sistema partidário para acabar com a influência do poder econômico. Acho que o governo se comunicou mal nos três anos, pois muitas realizações positivas ainda não são de conhecimento da maior parte da população.
AR - Essa é uma queixa geral?
A maior reclamação que ouço de companheiros do interior é que muitos programas do governo federal são utilizados por governadores e prefeitos como se fossem deles.
AR -O que o senhor acha que falta na política econômica?
Falta um pouco de ousadia. Desde 2003 defendo um superávit menor, juros menores e não vejo problema se tivermos inflação de 8%, compensada por uma taxa de crescimento da economia em torno de 6% a 7%, com recursos para a infra-estrutura. Mas acho que os juros cairão a partir deste mês (na quarta-feira passada, a taxa Selic caiu de 19,75% para 19,5%), teremos um crescimento econômico de 4% a 5% no próximo ano.
AR - Em meio a essas denúncias, o senhor acredita que o presidente concorrerá à reeleição? Quais seriam as bandeiras do PT?
O presidente Lula já pediu desculpas ao país pelos erros cometidos pelo partido. Acredito que com o tempo a população brasileira perceberá que o que aconteceu não é tônica no PT, eu diria que foi um momento de infelicidade. Como já assinalei, o presidente Lula tem marcas nos planos econômico, social e políticas externas muito importantes. Com isso, não quero afirmar que o presidente será candidato, ele ainda não decidiu sobre o assunto.
AR - Mas a situação política dele é muito difícil.
Se não fosse essa crise política o presidente Lula seria reeleito no primeiro turno. Não estou dizendo que ele esteja liquidado e que seu governo acabou, como dizem por aí. Apesar do massacre, as últimas pesquisas dizem que metade dos brasileiros confia nele. Nenhum governo que enfrentasse esse bombardeio contaria com a credibilidade que Lula ainda tem.
AR - As oposições vinham numa crescente muito boa na Bahia, mas depois das denúncias as coisas se complicaram...
É inegável que a crise política acabou atingido os partidos de oposição na Bahia. No ano passado, embora o grupo do governador tenha eleito a maioria dos prefeitos, a oposição teve dois milhões e oitocentos mil votos contra dois milhões e quatrocentos mil dos governistas.
AR - E quais seriam, então, as chances da oposição?
Acho que as chances de ganhar a eleição antes da crise política eram muito boas. Agora teremos que esperar o desfecho. A candidatura de Jacques Wagner ainda é uma das opções.
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