Opinião
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22.Março.2014
Antonio Barbosa Reis, chefe do CPRs PM
“A PM de perto incomoda, quando longe ela faz falta”
afirma o coronel Antonio Barbosa Reis, chefe do Comando de Policiamento Regional sul (CPRs), em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra Dois, da rádio Morena FM (quartas, 15h).
Reis diz que “esse jargão é antigo, mas atual. As organizações que agem em litígio, sempre no seu posicionamento legal, desagradam algumas partes. Não se consegue agradar a todos. Mas o que se registra aqui, na região sul e sudoeste, e em todo o estado da Bahia é que a PM cresceu muito”.
“O soldado PM de hoje é muito diferente do de 10 anos atrás. A formação evoluiu. Fui de uma polícia em que o soldado raspava a cabeça porque antigamente, na época da II Guerra, tinha piolhos nos alojamentos e o sujeito tinha que raspar a cabeça. Virou um regulamento da corporação”.
O coronel lembra, como exemplo de evolução, que “em 1979 ou 1980 o policial não tinha direito a voto. Pouca gente sabe disso. As mudanças eram necessárias e vieram. O policial de hoje não é como o de antigamente, que não questionava nada, não tinha voz, não tinha vontade”.
Para Reis, o grande trunfo atual é essa evolução física e pessoal, mantendo uma estrutura rigorosa de disciplina e hierarquia porque, sem isso, a corporação não se sustenta. “As pessoas muitas vezes confundem liberdade de expressão com falta de respeito, intolerância”.
“O nosso grande trabalho hoje é formar os novos policiais entendendo que disciplina e hierarquia não existem só no militarismo, tem que existir em qualquer empresa ou não se sustenta. O policial militar está mais humano, compreendendo melhor”.
Segundo o comandante, foi a criação da polícia comunitária que trouxe isso. “Se você é treinado para lidar com o inimigo, você só sabe lidar com o inimigo, e nesse caso, o inimigo era o cidadão. Hoje o policial sabe muito bem que o inimigo da corporação não é o cidadão. O cidadão é força amiga”.
“O CPRs comanda 130 cidades e quando estou na sede minha sala fica aberta o dia todo. Quem quiser falar comigo é só ir até lá”. Da filosofia de trabalho no governo Jaques Wagner, considerado diferente, Reis diz que mudou muito, mas ressalta que a mudança já estava acontecendo.
“Você romper estruturas antigas é complicado. Nós somos uma instituição ligada diretamente ao governo, não podemos infringir regulamentos e ir de encontro a sistemas”.
ML – Existe uma necessidade de militarismo para a segurança?
Eu acho que não. Quem tem que trabalhar com segurança pública não são os soldados treinados para a guerra. Policiais são treinados para prestar segurança pública ao cidadão. São formações e estruturas diferenciadas, não quer dizer que o policial não possa ser vinculado ao militarismo.
A quantidade de policiais é suficiente para a Bahia?
Temos mais de 33 mil na ativa e mais de 100 mil na reserva, mas o contingente não é suficiente. E é muito difícil encontrar uma instituição no Brasil que tenha um efetivo suficiente. São Paulo, que é o estado mais rico, não tem. Nos últimos 10 anos temos procurado compor essa falta com a qualidade.
O que acontece quando a PM tem que enfrentar manifestações violentas?
Em alguns momentos a polícia deixa de ser essa parceira da comunidade, infelizmente, e esse momento a gente chama de controle de distúrbios civis. O que a gente recomenda é que, se você percebe que no lugar tem alguém com uma pedra ou pau, e ânimo mais exaltado, saía e vá para um mais calmo.
Como a PM se prepara no combate a vandalismo nas manifestações?
Para a força policial, o problema de conter uma manifestação com violência ou vandalismo é que a mesma pessoa que estava com uma pedra na mão, quando chega a PM ela solta a pedra e vira manifestante. Como vamos saber quem é manifestante e quem é vândalo?
Acaba sobrando para quem apenas protestava...
O que vai acontecer é que alguém vai sair injustiçado e sofrer a consequência porque estava naquele local. A maior dificuldade é que as pessoas começam pacificamente e daí o manifestante vira vândalo, sem falar no grupo que vem pra incitar.
Foi o caso de Buerarema, no protesto que fechou a rodovia?
Aqui em Buerarema tivemos vários carros atingidos, 30 pessoas se infiltraram e incitaram a população. Essas mesmas pessoas, logo que percebem que conseguiram incitar a multidão, se retiram para não sofrer as conseqüências. E deixam o povão confrontando a polícia. Normalmente a ordem não é prender e sim dispersar.
Por que a PM não age nas invasões de terras por supostos índios?
Existe um dispositivo legal que diz que em qualquer tipo de ocorrência de interesse da comunidade indígena a competência não é estadual. O local das invasões foi taxado como área de conflito de terras indígenas e isso não é discussão para a PM e sim para o Ministério da Justiça.
A PM não pode intervir, considerando que não é área indígena oficialmente?
A PM, em todo o momento que foi requisitada, deu apoio à Polícia Federal, mas não cabe a nós essa análise de direito, o que me cabe é a análise da segurança pública. Quem têm competência no caso é a PF, Força Nacional e Exército.
Então a PM não pode combater as invasões mas sim as manifestações?
Não sou simpático a causa indígena nem de agricultor, sou um comandante de polícia. Quando fomos até Buerarema para coibir as ações dos agricultores é porque se tratava de crime comum. Quando se fecha uma BR por uma hora se cria um problema sério no país todo, quanto mais 19 horas.
O que o senhor acha do caso Nadson e da reação da população?
Queremos deixar claro que sabemos a dor de perder um filho e sentimos muito. A PM não está ali para matar ninguém, ela estava trabalhando, numa barreira policial à procura de drogas, armas, protegendo o cidadão. Essa é nossa obrigação funcional.
No caso em questão, o garoto fugiu da abordagem. Isso é comum?
Para se ter uma ideia, no dia seguinte um rapaz foi perseguido numa moto. Era um jovem de 15 anos com dois revólveres na cintura. A polícia não tem como saber quem anda armado ou não, o fato é que houve o furo à barreira. É uma perseguição legal.
A PM defende a punição, caso os policiais tenham errado?
Se as pessoas querem justiça, a PM também quer. Meu primeiro ato foi tirar o pessoal da rua, colocar no administrativo e instaurar o inquérito policial militar. Fiz um ofício ao Ministério Público pedindo que acompanhe o major que está presidindo o inquérito. Se errou, vai pagar.
E sobre o vandalismo de pessoas que diziam revoltadas?
O que não pode é que as pessoas que estão envolvidas por sentimentos com a perda de um ente querido vão pra rua queimar ônibus. Não acredito que parentes da vítima tenham feito isso, quem faz é o marginal que está entocado e tem interesse em tumultuar para tirar proveito. Pessoas inocentes foram prejudicadas e crimes graves foram cometidos por alguns marginais, como incendiar veículos e furtar outros no pátio da Settran.
Por falar em motos, elas viraram o instrumento de assassinos. Tem fiscalizado?
A PM tem feito blitzen constantemente, para coibir os crimes praticados por pessoas que trafegam nesse veículo. Há um mapeamento e se determina os pontos para blitz e barreira com esse estudo.
Quais são os crimes que mais afligem Itabuna?
São os homicídios. Sempre debatemos que não só Itabuna, mas toda a região sul se destaca em homicídio. E não baixa. Nós apreendemos armas mais do que todo mundo, mais que nas demais regiões, juntas. É difícil entender.
A população precisa ajudar mais na segurança?
Nós temos a tendência de cobrar dos políticos e eles têm mais responsabilidade, mas o pai e a mãe do filho de 8 anos que sai de casa de manhã e chega à noite, tem que saber onde ele está. Não é atribuição do prefeito nem minha. Cada um tem sua parcela de responsabilidade.
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