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28 de Fevereiro de 2004

Ramiro Aquino, jornalista e mestre de cerimonias
"A ética vem sendo deixada de lado"

       observa Ramiro Aquino sobre o rádio AM de hoje. Jornalista, radialista e apresentador, Ramiro fala sobre sua experiência em uma área na qual ele é praticamente o único profissional em atividade no eixo Itabuna - Ilhéus: a de mestre de cerimônias.
       Mestre com mais de 400 cerimônias apresentadas desde 1975, Ramiro Aquino conta como começou a apresentar eventos e os requisitos necessários para quem pretende enveredar pelo mesmo caminho.
       Fala também sobre seu trabalho como mestre de cerimônias oficial do Troféu Jupará e, é claro, sobre a imprensa regional e a tristeza com a queda no padrão de qualidade do rádio AM.

A Região - Como você se tornou um mestre de cerimônias?
       Eu fui leão do Lions Clube e a instituição tem em suas reuniões a figura do mestre de cerimônias. Eu gostava de fazer esse trabalho e os membros gostavam de me convidar, muito em função de minha experiência no rádio, ali por volta de 1975. Eu fui fazendo e comecei a tomar gosto pela coisa, até que passaram a me convidar para eventos fora do Lions.

AR - Foi então que você começou a se profissionalizar?
       É, na época eu imaginei o seguinte: muita gente pode fazer isso que eu faço. O que eu preciso é me profissionalizar. Foi aí que, já na segunda metade da década de 80, eu comecei a me interessar por publicações sobre o assunto. Primeiro, textos sobre postura e oratória, depois especificamente sobre cerimonial. Eu também fiz diversos cursos e consegui entrar na década de 90 já profissionalizado.

AR - Você é um dos poucos mestres de cerimônia na região. Falta interesse pela área?
       Quando eu estava iniciando, ainda havia algumas pessoas que eram chamadas para apresentar eventos, mas hoje sou chamado para quase tudo que se faz aqui. Talvez por essa profissionalização que busquei. Nós temos por aqui o Carlos Bastos, da Uesc, que talvez seja o maior especialista em cerimonial na região. Nós trocamos muitas figurinhas: eu com minha experiência de cerimoniais diversos e ele com o conhecimento do cerimonial acadêmico.

AR - Quais são os grandes segredos do mestre de cerimônia?
       A primeira coisa é entender de cerimonial, protocolo, ordem de precedência. Existe inclusive decreto governamental sobre isso. É evidente que esse conhecimento se adquire com o tempo, com a prática. O mestre de cerimônia deve ter algumas características básicas: boa postura, boa presença de palco, mas não aparecer mais que a cerimônia. Uma boa voz ajuda bastante, além de conhecimento de etiqueta. É preciso conhecer os pronomes de tratamento adequados, quem é "Vossa Excelência", quem é "Ilustríssimo Senhor" e por aí afora. Vereador, por exemplo, não é "Excelentíssimo", embora eles se tratem assim.

AR - Você não parece ser do tipo que esconde o segredo...
       De jeito nenhum. Eu, inclusive, dou um curso de cerimonial, pois nós não podemos ficar com tão poucas pessoas fazendo isso numa região como a nossa. É claro que o curso é apenas o ponto de partida, é preciso que a pessoa se interesse e continue estudando.

AR - Como autodidata, você deve ter enfrentado situações difíceis. Qual a maior?
       Ainda no período em que eu era do Lions Clube de Itabuna, houve uma convenção cujo coordenador era o dentista Antônio Henrique Braitt. Na hora de formar a mesa, indicaram 23 pessoas, embora a regra mande que não haja mais de 7 ou 9. Eu pedi aos organizadores que o número de integrantes fosse reduzido para uns 17 e, nessa redução, acabaram riscando por engano o nome do Braitt. Ele era o coordenador do evento e a primeira pessoa que deveria ser chamada.

AR - E como você se livrou dessa "saia justa"?
       O que impediu que a mancada se concretizasse foi uma rápida consulta à lista, enquanto eu chamava as autoridades para a mesa. Foi quando vi o nome do Braitt riscado e ele agoniado na platéia. A minha saída foi fazer uma apologia ao que era a organização de um evento como aquele e dizer que propositalmente tinha deixado por último o coordenador da convenção. Resultado: ele foi aplaudidíssimo e adorou.

AR - Qual o pior tipo de evento para um mestre de cerimônia?
       Sem dúvida, é o evento político. Existem alguns prefeitos que se julgam a maior autoridade do mundo e não admitem que, mesmo num evento privado, ele não seja a última pessoa a falar. Muitas vezes é necessário quebrar o protocolo para satisfazer certas vaidades.

AR - E qual o melhor tipo de evento para se apresentar?
       O melhor é aquele que tem um cerimonial por trás. Por exemplo, o melhor evento que fiz foi o da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, em Salvador, que tinha um cerimonial espetacular. A posse do reitor Joaquim Bastos, da Uesc, foi outro evento muito bem organizado, mas infelizmente cerimônias assim ainda são exceção no interior.

AR - Você é o apresentador oficial do Troféu Jupará, recebendo um cachê fabuloso. O que isso significa para você?
       (Risos) Eu ainda não trabalhava na Rádio Morena quando Marcel e Carlos Leahy me convidaram para fazer o Troféu Jupará. Eles não haviam falado em dinheiro, até que eu perguntei: "vem cá, e o cachê?" e eles responderam "um real, mas pago na hora". Na verdade, o maior pagamento que eu posso receber é a certeza de estar contribuindo para engrandecer a nossa arte e a nossa cultura.

AR - Quais as lembranças mais marcantes que você tem do Jupará?
       O último foi muito agradável, quando fui surpreendido com um troféu para mim. A homenagem ao compositor e intérprete Hilário Lima, que era um grande amigo da Morena, foi também uma cerimônia emocionante. Outra emoção muito grande foi a homenagem que o evento prestou aos artistas já mortos, como Pedro Mattos, o próprio Hilário e outros que se foram durante essa jornada de dez Juparás. E também o primeiro Jupará sem Manoel Leal na platéia foi algo que nos marcou bastante.

AR - Como você avalia a situação atual da imprensa?
       Falando dos jornais, eu não tenho receio de dizer que nós fazemos a melhor imprensa do interior do Estado. Apesar de Feira de Santana ser uma cidade bem maior que Itabuna, nós temos empresas com boa infra-estrutura, apesar das dificuldades. As pessoas procuram os jornais nas bancas, exatamente porque eles prestam um serviço à comunidade. O jornal ajuda a contar a história da cidade.

AR - E como está o rádio feito na região?
       Eu sou um apaixonado pelo rádio, mas acho que a gente evoluiu em algumas coisas e involuiu em outras. Nós demos uns passos atrás em rádio AM, em comparação à fase áurea, quando tivemos uns 30 anos de trabalho feito com muita qualidade. Hoje, os programas de denúncia estão baixando o nível do nosso rádio, com todo o respeito que eu tenho aos companheiros que fazem esse tipo de programa. É preciso ter cuidado com o que se diz, pois nós somos formadores de opinião. O radialista e o jornalista têm que ser, acima de tudo, verdadeiros e eu acho que a ética vem sendo deixada muito de lado.

 

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