Opinião
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26.Abril.2014
Ricardo Campos, presidente da Emasa
“Tudo o que apuramos irá para o Ministério Público”
- garante o presidente da Emasa, Ricardo Campos, sobre as auditorias feitas dentro da empresa de água e saneamento de Itabuna. Ricardo revela que foram descobertos inúmeros casos de roubo, desvio de verbas, corrupção de funcionários.
Ele concedeu esta entrevista ao jornalista Marcel Leal, no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h), da rádio Morena FM. Ricardo abordou os desafios do primeiro ano, os projetos já realizados e o que está previsto para o resto deste ano.
Também comentou sobre as queixas recentes de usuários, sobre consumo ou valores alterados nas contas sem justificativa. Confira.
ML – Ricardo, qual foi o maior desafio no ano passado?
Começou em dezembro de 2012, antes da posse. Eles sumiram e deixaram a empresa à deriva. Como éramos da equipe de transição, tivemos que assumir. Por falta de pagamento, mais de 3 meses, a empresa que fazia o tratamento disse que não forneceria mais cloro, porque a dívida já chegava a R$ 1,2 milhão.
Não tinha cloro. Itabuna ia passar o ano novo e Natal sem água tratada, seria um caos. Tivemos que conversar e fazer uma parceria. Outro problema foi uma ação da Torre, de R$ 7 milhões.
A dívida não existe, ao que se sabe queriam pagar esse valor antes de passar o governo...
Exatamente. Foi feito um termo de compromisso de pagamento assinado pelo assessor jurídico sem passar pelo Conselho de Administração nem pela diretoria executiva. Não tem validade. Estamos entrando na justiça com uma liminar para evitar que seja cobrado dessa maneira.
Você está investigando esta e outras situações por auditoria. Ainda não acabou?
Terminamos o levantamento e a auditoria é ampla, mas não é de caráter policial ou investigativo. Ela levanta todos os procedimentos que foram feitos na empresa. Foi feita auditoria na área pessoal, contábil e comercial.
Como você vem recuperando as finanças da Emasa?
Fizemos o Refis com 41 processos. Existem R$ 88 milhões de dívida desde 1998 até 2008 e 2012 que não foram pagos. Não se pagava nenhum tipo de tributos e, ao não se pagar os tributos, esse dinheiro foi para onde? Hoje pagamos os tributos rigorosamente em dia.
Descobriram muita coisa errada?
Descobriram que tinha contas que não eram cobradas, contas liberadas. Existe uma dívida com a Coelba de R$ 900 mil, que não foram pagos em setembro, outubro e novembro. Não se pagou e esse dinheiro foi para onde? Estamos procurando saber onde o dinheiro foi parar. E isso não é fácil.
Você vai enviar o processo ao Ministério Público? E à imprensa, para não haver suspeita de proteção?
Vamos enviar à prefeitura e a orientação do governo é que se envie para o Ministério Público. E não existe proteção. Estamos diante de algo sério, um desafio grande que é a questão do saneamento.
A Emasa também tem que tratar o esgoto antes de jogar no rio. Como estava quando assumiu?
Praticamente zero, as estações de tratamento não estavam funcionando, estava tudo sucateado. Hoje estamos em torno de 13% tratados, que era o mesmo da época de Geraldo Simões. É um retrocesso e voltamos à estaca zero.
Qual a perspectiva ainda para este ano. Dá para ampliar os 13%?
Já estamos ampliando. Todos os novos empreendimentos já nascem com estação de tratamento. A emasa usou a estratégia de não ampliar o passivo e vamos atrás de recursos para ampliar isso. Como novo empreendimento que o prefeito assinou, de R$ 32 milhões, será ampliado para 34% e vão ser atendidas mais de 2.700 pessoas. É uma obra grande.
E quase se perdeu esse dinheiro, não?
Esse dinheiro em 2012 estava largado. A GDK, que fazia a obra, quebrou e não deu andamento. Hoje, a nova empresa, a Unidas, antes de se iniciar a obra vai ter que ir na Emasa, com os projetos. Vamos fiscalizar e acompanhar passo a passo o que será feito.
Como está a politica dos buracos? Quem tapa?
Quando é paralelo, a Emasa faz o serviço, se for asfalto, é com a Sedur. Mas toda intervenção que fazemos, passamos para a secretaria. Infelizmente, quando abrimos ruas com paralelo, as pessoas roubam as pedras. Na travessa Santo André, no Conceição, levaram todos os bloquetes...
Outro problema de Itabuna é a drenagem. Melhorou?
Itabuna sofre com um problema sério de drenagem. A Cinquentenário é uma bomba relógio. Vários estabelecimentos eram lojas ou residências e se transformaram em restaurantes. Então, toda a gordura vai para a rede do esgoto, o que cria entupimento.
Estamos orientando os empresários para construir caixas de gordura. Quando entope, às vezes é preciso quebrar tudo. Ainda existem muitas manilhas estreitas na cidade, e o mau comportamento da população, que joga lixo no esgoto.
A drenagem é da época de Oduque...
Acredito que naquela época não existia um desenvolvimento técnico nem planejamento de pesquisa para se analisar uma cidade e direcionar a rede para isso. Quando o asfalto cedeu próximo ao Módulo Center, em nossa época, abrimos um buraco de quase 4 metros de profundidade para chegar no nível.
Na reforma da calçada da avenida não constava trocar a rede de água pluvial?
Ninguém faz um projeto que vai reformar uma avenida e quebrar, sem mexer na rede de drenagem. A mesma coisa aconteceu com o canal da Amelia Amado. O canal é um rio urbano. O projeto previa construção de adutoras de redes laterais para captar os esgotos, paralelo, nos dois lados. Não foi construído e agora já está fechado.
Então o esgoto tinha que cair em paralelo e não dentro do canal?
Claro. Tinha que ser captado, levado para a estação de bombeamento em frente ao Príncipe Hotel e de lá para a estação de tratamento do São Judas. Depois cair no rio já tratada. A estação ainda tem uma eficiência de 80 a 90%.
Desperdiçou a chance de canalizar e fazer um bom trabalho...
Hoje, como você disse, quem é louco para quebrar tudo aquilo novamente? A situação pode ser resolvida com o plano municipal de saneamento. Mas vai ter que ter consultas públicas para definir onde vai ser feita a obra e o acompanhamento da sociedade.
Tem prazo certo para o plano?
Foi definido pelo Governo Federal que o projeto teria que estar pronto até dezembro de 2013 ou não se receberia verbas. Foi adiado para dezembro de 2015. Já estamos com a empresa contratada para fazer a audiência pública.
Outra coisa é que temos que ter uma cidade real, não ideal. Estive em Petrópolis e a empresa de saneamento resolveu o problema de esgoto nos bairros periféricos usando biodigestor, que ainda resulta em adubo e gás de graça para o usuário.
Já existe algum estudo nesse sentido para Itabuna?
Sim. Mas o setor carece de mão de obra especializada. Faltam técnicos de pesquisa e desenvolvimento. Fazemos treinamento, mas faltam engenheiros sanitaristas no Brasil. A área de saneamento sempre ficou em segundo plano e estamos pagando um preço alto por isso.
Recebemos queixa de usuários com contas subindo sem razão. Por que sobem?
Temos perto de 59.700 ligações de água. Perto de 45% tem hidrômetros antigos e atuais. Alguns não se sabe como estão sendo aferidos. Estamos trabalhando para resolver essa questão.
Foram recadastrados muitos imóveis e vários eram cadastrados como pequenos, mas eram grandes. É possível que haja ainda algum erro de leitura. É preciso que o consumidor vá à Emasa e reclame.
Houve aumento de tarifas de água este ano?
Não. Temos quase dois anos sem reajuste de tarifa de água em Itabuna. Se houvesse, a população estaria reclamando...
Em Itabuna existem casas em locais proibidos, mas oficializadas porque se ligou a luz, a água...
Existem. Temos que investir em tecnologia, até maesmo construir uma rede coletora de esgoto aérea ou desalojar as pessoas. A gente chama de aérea porque é sobre a terra. O grande problema nosso é a questão dos manaciais. Temos dois pontos de capitação, o Rio Almada e o Cachoeira.
E a barragem?
A barragem está parada e é um problema. Já conversamos com o prefeito mas não depende do município. A empresa disse que não tinha como continuar porque os recursos não seriam suficientes. Estamos em abril e a GDK parou de trabalhar em 2012. Perdemos 2013 todo.
Temos água suficiente para a população? A população aprendeu a economizar?
No momento não e não. A barragem é fundamental para resdolver o fornecimento. Vemos pessoas lavando calçadas e carros com mangueiras, usando uma água com valor altíssimo, porque tratada. Nós tratamos mal nosso manancial, cada vez mais poluído. Precisamos captar água de chuva para reusar nestas atividades.
Qual o orçamento da Emasa?
Gira em torno de R$ 3 milhões e pagamos R$ 500 mil por mês de energia elétrica, com o parcelamento da dívida. Quando chegamos, se pagava R$ 800 mil. Reduzimos o valor só com o trabalho de engenharia. Antes se bombeava água por 24 horas, hoje se faz com inteligência.
As obras novas nos bairros já levam água e esgoto?
Sim, cada novo condomínio já nasce com água e esgoto tratado. É uma exigência, até porque para cada real investido em saneamento, se economiza quatro na saúde.
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