Calango.com
 
Volta ao inicio
Volta ao inicio
Inicio
Fale conosco | Tempo na Bahia | Servicos | Quem somos
Opinião

ARegiao.com.br
:: Ultimas
:: Geral
:: Itabuna
:: Ilhéus
:: Bahia
:: Malha Fina
:: Charge!
:: Internet
:: Giro Geral
:: Giro da Bahia
:: Entrevistas
:: Artigos
:: Serviços
:: Comercial
:: Contatos
 
 
Morena FM 98.7
TheBigDoor.com

28.Junho.2003

"É preciso revitalizar o interior e dar uma chance para ele crescer"

afirma Soane Nazaré de Andrade, referência de cultura em Ilhéus. Um dos fundadores da Fespi, reitor da Uesc, idealizador e reitor da Maramata, Universidade Livre do Mar e da Mata, secretário de cultura.
       Soane Nazaré traz em sua memória a história de Ilhéus, da qual é um apaixonado pesquisador. Dono de um entusiasmo juvenil, aliado à sabedoria dos que viveram mais, Soane mostra nesta entrevista especial de aniversário de Ilhéus porque é tão querido. A entrevista foi concedida a Sabrina de Branco, exclusiva para A Região.

A Região - Como era o comércio de Ilhéus na época do cacau?
Soane Nazaré - Ilhéus teve seu processo de desenvolvimento paralelo à implantação da economia do cacau. Os nossos comerciantes foram, inicialmente, os sergipanos e os sírio-libaneses. As lojas de comércio mais movimentadas eram quase sempre as dos libaneses, como os irmãos Isaac e Elias Ocké, a família Challoub, etc. As lojas que dominavam o comércio eram aquelas da Rua Pedro II e adjacentes, e os compradores eram os fazendeiros de cacau, que tinham maior poder aquisitivo para comprar, tanto os que residiam na cidade quanto os que vinham do interior.

AR - Os fazendeiros eram os grandes clientes, então?
SN - A monocultura do cacau era muito poderosa, portanto, o poder aquisitivo dos fazendeiros era expressivo. Com o passar do tempo o cacau foi cedendo espaço a novas atividades econômicas, como hoje o centro industrial e o pólo de informática. Com a grande crise da vassoura-de-bruxa, que foi precedida por outras crises locais e internacionais, o comércio tornou-se oscilante, mas basicamente fundamentado no dinheiro que vinha da produção e exportação do cacau. Ilhéus era uma cidade onde entrava muito dólar, proveniente da exportação. Chegamos a exportar quase um bilhão de dólares em cacau.

AR - Então a força do comércio era principalmente por causa do cacau?
SN - Sim, o cacau era o instrumento responsável pela entrada do dólar na cidade, pois vendíamos o cacau e, na verdade, recebíamos em cruzeiro, mas o produto era cotado em dólar, que entrava no país e o fortalecia. Esse dinheiro não circulava todo no comércio de Ilhéus, pois muitos fazendeiros já residiam em Salvador e no Rio de Janeiro. Mas acima de tudo, o homem do cacau era muito preso à sua terra e, naquela época, cada fazenda era um núcleo habitacional, com mais de 50 pessoas. Havia fazendas com venda própria, que importava bacalhau para vender aos seus trabalhadores na semana santa, já que eles não tinham como ir à cidade. Enfim, havia uma movimentação, uma dinâmica muito grande no comércio local.

AR - Os fazendeiros também eram donos de estabelecimentos comerciais?
SN - Às vezes sim, mas aconteceu muito o inverso. Alguns comerciantes abriam suas lojas e com o dinheiro que ganhavam compravam fazendas. Como exemplo disso, posso citar Jaziel Mendonça, que veio de Sergipe sem nenhum centavo, se estabeleceu comercialmente em Ilhéus, e quando começou a prosperar comprou sua primeira fazenda. Seu irmão, Osvaldo Mendonça, fez a mesma coisa e se tornou fazendeiro. Geralmente, essas pessoas compravam as terras no interior e construíam suas fazendas de cacau organizadas, com gerência, tropas de burros, vários funcionários.

AR - E como vivia a sociedade naquela época?
SN - Os fazendeiros de cacau podiam mandar seus filhos para estudar em grandes cidades, inclusive fora do país, comprar casas em Salvador e manter suas fazendas e suas relações comerciais aqui. Os exportadores de cacau eram uma grande força, que financiava a produção, substituindo os bancos, comprando por antecipação. Havia grande circulação de dinheiro e a sociedade era muito estável.

AR - A crise da vassoura-de-bruxa acabou enfraquecendo essa sociedade?
SN - Na verdade, essa crise enfraqueceu tremendamente toda a estrutura da região, pois o fazendeiro empobreceu e quebrou, e a própria estrutura pública municipal foi enfraquecida, pois a atividade econômica diminuiu, os impostos foram reduzidos, e as prefeituras ficaram mais pobres. Ilhéus, hoje, é um drama administrativo, enquanto que há 20 ou 30 anos, podia fazer grandes obras públicas. Tenho pena do prefeito Jabes Ribeiro, que vive viajando para Brasília e outras cidades, atrás de recursos que antigamente eram captados aqui mesmo.

AR - Os setores afetados pela vassoura-de-bruxa continuam em crise?
SN - Há um processo de recuperação, com as tecnologias modernas, que está constituído através da biofábrica, mas é um processo lento. Não é de uma hora para outra que pode se recuperar um império desse. Tínhamos uma extensão imensa de propriedades organizadas. Mas de 1961 pra cá, ganhamos a nossa primeira faculdade de direito, que hoje constitui a Universidade Estadual de Santa Cruz, e isso já foi muito importante para a cidade, pois os pais não precisavam mais mandar seus filhos para estudar em outras cidades.

AR - Falando nisso, como foi o desenvolvimento da Uesc desde sua implantação?
SN - A Uesc cresceu admiravelmente e é um dos grandes projetos vitoriosos da civilização do cacau. Começamos com uma escola pequena, com uma primeira turma de apenas 22 alunos, e hoje a universidade conta com muitos cursos, inclusive de pós-graduação, e uma administração acadêmica exemplar. Tudo isso foi conquistado com o esforço dos professores, a dedicação dos estudantes, e hoje temos uma das grandes universidades do país.

AR - E com relação ao meio-ambiente, quando as pessoas começaram a dar importância ao assunto?
SN - Esta é uma questão importante, que deve ser tratada com muita atenção e esforço por parte dessa juventude que está conhecendo a nossa natureza, a nossa vida. Pode-se dizer que houve uma mudança muito grande a partir de 1907, quando o gaúcho Sebastião Magali invadiu o Brasil juntamente com um grupo de mercenários, tendo como centro desta invasão, o município de Ilhéus.

AR - Que interesse eles tinham por aqui?
SN - O interesse dos mercenários em acompanhá-lo foi justamente receber terras em troca. Nessa época, nos EUA, começava o grande movimento ecológico comandado pelo presidente Teodoro Roosevelt, a partir do qual foram criados parques nacionais nos EUA. Assim, começava a despertar nas pessoas a consciência ecológica. Enquanto aqui no Brasil começavam a se plantar os cacauais, e o homem convivia bem com essa vegetação verde exuberante que ainda tem como cobertura a Mata Atlântica.

AR - Depois veio a vassoura-de-bruxa para acabar com essa situação...
SN - Exatamente, com ela começamos a perder os cacauais e, conseqüentemente, a cobertura vegetal da Mata Atlântica, pois os homens passaram a derrubar árvores da mata, espécies vegetais importantíssimas, para fazer alguma renda, já que o cacau estava desaparecendo. Então o que houve, na verdade, foi uma tragédia ecológica, um crime que se cometeu nessa região contra o meio-ambiente, contra a ecologia. Os culpados por esse crime foram as autoridades da política brasileira, que fecharam os olhos e trataram um problema tão sério com indiferença e ignorância. Eu sempre digo que isso foi um crime, que este crime tem réu e ainda precisamos identificar esses réus, que estão ligados à estrutura da política brasileira. Eles só despertaram para a gravidade disso recentemente quando, através do desenvolvimento científico, conseguiram chegar à clonagem.

AR - Quando a Maramata começou a atuar em Ilhéus?
SN - Há cerca de seis anos Ilhéus começou a se atentar para os problemas ambientais e isso deve ser creditado ao prefeito Jabes Ribeiro, que decidiu implantar a Maramata, que tem como objetivo promover a educação ambiental, a consciência ecológica. Somente o campus da Maramata, onde antes de sua implantação não havia nenhuma espécie vegetal, hoje conta com uma biodiversidade superior a 50 espécies. E agora a população está compreendendo a importância do problema ecológico, participando da defesa das idéias desenvolvidas pela Maramata.

AR - Então houve um grande avanço quanto à consciência ecológica da população?
SN - Como sabemos, não é fácil promover a educação de uma hora para outra, esse é um processo milenar. Mas, em pouco tempo, nós já estamos vendo frutos de um processo de educação ambiental, tendente para a promoção do equilíbrio das relações homem-natureza.

AR - Quais os principais problemas ambientais do município?
SN - Temos um monte de problemas e um dos mais recentes é a invasão dos manguezais, principalmente nas rodovias que ligam Ilhéus aos municípios de Itabuna e Itacaré. Os manguezais são sistemas da maior importância, estão sendo destruídos e isso, do ponto de vista ecológico, tem repercussões muito grandes. Sem falar nos lixos que são jogados nos manguezais. Tratar lixo é uma coisa caríssima, e quando o governo tem que usar o dinheiro público para isso, acaba deixando de investir em outros setores, como saúde e educação, que são de extrema importância. Também tem o problema do mau gerenciamento das encostas, os pescadores reclamam que a quantidade de peixes diminuiu, os areeiros estão explorando inadequadamente os areais, enfim, há uma infinidade de problemas. Isso tudo deve-se ao mau relacionamento do homem com a natureza.

AR - E quanto ao turismo, por que ele não se expande em Ilhéus?
SN - Existem vários motivos para isso, a começar pela crise econômica nacional, que fez com que as pessoas deixassem de fazer viagens como antes. Mas por outro lado, nós não desenvolvemos uma rede hoteleira para competir. Embora o número de pousadas e hotéis tenha crescido notavelmente, eles não oferecem serviços adequados, e esta é uma crítica pessoal que eu faço, de que deveria haver uma competição de serviços com outros centros turísticos.

AR - Pode dar um exemplo?
SN - Por exemplo, as barracas de praia não se modernizaram como as de Porto Seguro, além do que os preços internos estão altos. Os problemas decorrentes da crise do cacau fizeram com que a cidade não se modernizasse para o turismo. Nós temos as praias, mas isso tem em quase todo o Brasil, é preciso que se desenvolvam equipamentos como o Museu do Mar da Capitania, pois o turista não vem só para tomar banho de mar, ele também quer ver cultura, saber a história da cidade. Ultimamente estão sendo feitas algumas mudanças nesse sentido, mas leva um tempo para que os resultados sejam vistos.

AR - O senhor acredita que nesse aniversário a cidade tem o que comemorar?
SN - Sim, nós vamos estar comemorando uma obra importante, que é a restauração do Quarteirão Jorge Amado. Quando as obras estão em andamento, as pessoas quase não percebem a diferença, mas se compararmos o centro da cidade hoje, com o que era há pouco tempo atrás, vemos uma diferença muito grande. Muitas coisas estão sendo feitas, no entanto, os recursos são limitados, as receitas transferidas para o município estão diminuindo. A arrecadação municipal não está crescendo na medida em que deveria para atender à demanda criada pela invasão da cidade, com o êxodo das pessoas do interior, na crise do cacau.

AR - E o que poderia ser feito para melhorar a situação da cidade?
SN - Eu acho que o que poderia ser feito é, na verdade, o que já está começando a se fazer, que é melhorar o aspecto urbano, os equipamentos de um modo geral, dar mais atenção às barracas de praia, aos museus, ao teatro e à vida cultural da cidade. Tem que continuar perseguindo esses objetivos. Eu acho que o teatro com uma boa pauta, um tratamento ecológico adequado, uma preocupação com o aspecto urbano, as ruas, as placas de sinalização, e também incorporar o Morro de Pernambuco ao patrimônio do povo ilheense, fazendo dele um centro de atração para turistas do mundo todo, tudo isso trará muitos benefícios para a cidade.

AR - Isso pode ser feito a curto prazo?
SN - O maior problema é que há uma limitação de recursos muito grande, mas isso está acontecendo em todo o país. É preciso que o interior seja privilegiado, mas acontece o inverso, pois existe uma política que privilegia os grandes centros. Isso está errado, porque se joga nesses centros uma grande população e não se consegue atender aos anseios dela. Há muito tempo eu digo que é preciso revitalizar o interior do Brasil, e dar às pequenas cidades a chance de crescer, não excessivamente, mas o necessário para oferecer uma qualidade de vida às pessoas.

 

Calango o portal da Bahia
folhaWeb
Uma seção sobre internet, em especial a do sul da Bahia

Cotações
Dolar, Cacau, Boi Gordo, Café e Leite

Eventos
A agenda de eventos da Bahia, do portal Calango.com

Links
Os sites recomendados por A Região

Balaio
Os classificados online de A Região

Marcel Leal
Artigos do presidente da Rede Morena

Caso Leal
Mais de 5 anos de impunidade

Calango.com
Conheça o Portal da Bahia

Propaganda
Saiba como anunciar em A Região e confira a pesquisa de audiência


[ Geral ] ....  [ Itabuna ] ....  [ Ilheus ] ....  [ Bahia ] ....  [ Malha Fina ] ....  [ Comercial ] ....  [ Giro Geral ]

Copyright©2003 A Região Editora Ltda, Praça Getúlio Vargas, 34, 45600-000, Itabuna, BA, Brasil
Telefax (73) 211-8885. Reprodução permitida desde que sem mudanças e citada a fonte.

Click Here!