Opinião
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TheBigDoor.com
7.Junho.2003
"Dívidas de mais de R$ 4 milhões impossibilitam salários maiores"
é o que afirma o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, o médico Sílvio Porto, que está
a frente da instituição desde o ano passado. Ele vem sendo acusado pelo Sindicato dos Trabalhadores
em Saúde de Itabuna e Região (Sintesi) de se negar a negociar, mas afirma que, se tivesse feito o
que determinou uma auditoria, a situação seria outra.
Ele diz que os auditores recomendaram a demissão de 300 dos 1.068 funcionários dos hospitais Calixto
Midlej Filho e Manoel Novaes, administrados pela Santa Casa e em greve desde o dia 2. "Não demitimos
para não piorar ainda mais a situação dessas pessoas. Isso está causando parte do déficit mensal, em
torno de R$ 200.000,00".
De acordo com o provedor, parte dos serviços essenciais deixou de ser oferecido, pois os
trabalhadores não estão cumprindo a lei de greve, que determina o mínimo de 30% dos funcionários.
Acompanhado dos diretores médicos dos dois hospitais, Jaime Oliveira, do Novais, e Ruy Sousa, do
Calixto, o chefe da Santa Casa também falou dos planos de saúde.
A Região - Por que não foi possível evitar a paralisação nos hospitais?
Sílvio Porto - Essa greve é um movimento anunciado há mais de um ano. Só que naquele momento
os salários dos funcionários estavam em dia, só existindo pendência de duas parcelas do 13º salário,
negociadas pela antiga provedoria. Mas existiam dívidas de mais de um milhão de reais referentes aos
salários dos médicos, que estavam até seis meses sem receber e ainda trabalhavam. Há um débito de
quase três milhões de reais com fornecedores. Então, entre servidores, médicos e fornecedores, quem
estava em melhor situação, por assim dizer, eram os funcionários. Mas eles buscavam uma desculpa
para paralisar as atividades.
AR - Mas só foi oferecido 1% de reajuste salarial. Esse foi principal motivo, não?
SP - Não. O tempo todo eles queriam entrar em greve. Os servidores já haviam ameaçado cruzar
os braços quando a Santa Casa começou a buscar parcerias com os médicos, no que eles chamam de
'terceirização' de laboratórios e banco de sangue, para gerenciar alguns setores. O interessante é
que os trabalhadores tiveram um alvo específico, que foram os hospitais da Santa Casa. São as
instituições que melhor prestam serviço à população. Outros hospitais há muito tempo têm o tipo de
relação de trabalho que eles criticam, mas não sofreram nenhuma ação como esta. A gente respeita por
que é um direito constitucional do trabalhador fazer sua greve, o que não aceitamos é a maneira como
foi feita.
AR - Os trabalhadores dizem que única alternativa deixada foi a greve...
SP - Não foi, o tempo todo procuramos negociar, mostrando a situação da Santa Casa.
Infelizmente não foi possível atender. Apresentamos nossas condições, que não foram aceitas, até
convocamos os servidores para ir aos governos municipais e estaduais, que são os maiores pagadores
da instituição. A verdade é que eles não tiveram paciência. Outra situação que contribuiu com a
paralisação foi o excesso de pessoal, pois uma auditória determinou a dispensa de 300 funcionários,
mas optamos por não mandar ninguém embora.
AR - A proposta da Santa Casa não ficou muito aquém do reivindicado?
SP - Não. Oferecemos o que poderíamos arcar, sendo 1% mais 3%, que iríamos pagar com a ajuda
da Prefeitura de Itabuna.
AR - Mas as santas casas de Ilhéus e Vitória da Conquista deram reajuste maior...
SP - Lá foram feitas correções, pois os salários estavam defasados há muitos anos. De 94 até
hoje os trabalhadores dos nossos hospitais sempre obtiveram ganhos acima do que recomenda a CLT,
como 25% de adicional noturno, quando a lei dá 20%, e gratificações para quem atende em setores de
maior risco, como UTI e hemodiálise. Outro detalhe é que a prefeitura de Conquista repassa R$200 mil
mensais, valor que também estamos buscando aqui. Se a prefeitura nos repassar, vamos dividi-los com
os funcionários.
AR - Quais os serviços que estão funcionando nos hospitais Calixto e Novais?
Ruy Sousa - Estamos funcionando o CTI e as enfermarias, desde quando saiu a notícia de que
haveria greve. Há alguns dias estamos dando alta e não mais internando pacientes, pois seria
irresponsabilidade nossa. Hoje só estão lá os pacientes que já estavam internados.
AR - Quais os outros setores importantes que ficaram sem funcionar?
RS - O banco de sangue, que teve as atividades interrompidas devido ao número de funcionários
insuficiente. Inclusive já existe a previsão de falta sangue na cidade caso não se regularize o
aporte de servidores imediatamente.
AR - E o atendimento no Manoel Novais?
Jaime Oliveira - Lá as dificuldades são enormes, pois dependemos do nosso quadro de
funcionários e da infra-estrutura. A nossa situação é similar à do Calixto, pois só temos condições
de prestar um melhor serviço com os laboratórios, banco de sangue e os equipamentos de raio X
funcionando.
AR - Quais as conseqüências dessa impossibilidade?
JO - O quadro é extremamente preocupante, porque os pacientes que deveriam ficar internados
não podem receber atendimento adequado. E pior é que esses pacientes não têm para onde recorrer já
que, com a paralisação nos principais hospitais, a cidade não dispõe de uma rede capaz de atender
toda a clientela regional.
AR - Vocês estão acusando os trabalhadores de desobedecer a lei de greve?
SP - Exatamente. O sindicato (Sintesi) está liberando somente o pessoal do setor
administrativo, que faz o serviço burocrático dos hospitais. A medida prejudica não só os pacientes,
mas também os profissionais dispostos a ajudar, que estão sobrecarregados, tendo que dobrar o turno.
O sindicato deveria, no mínimo, liberar profissionais para a troca de turno.
AR - Quais as medidas adotadas?
SP - Denunciamos o excesso cometidos pelos trabalhadores ao Ministério do Trabalho e estamos
tentando a contratação temporária de alguns profissionais. Nós fizemos um apelo a secretário de
Saúde, Paulo Bicalho, pedindo que ele disponibilizasse profissionais da área de enfermagem do
município para o atendimento de emergência. Também estamos buscando os serviços dos estudantes da
nossa escola técnica de saúde para amenizar a situação.
AR - Fugindo um pouco da greve, como o senhor está conduzindo dois planos de saúde (Unimed e
Plansul) concorrentes?
SP - Sou um profissional formando há quase 30 anos, tenho uma tradição de vida, de luta e
trabalho na região. Já estava presidente da Unimed quando fui convocado pela irmandade, com apelo de
cerca de 100% dos médicos, que impuseram a minha presença na presidência da instituição.
AR - Mas queremos saber como o senhor está administrando os planos?
SP - Quando assumimos a Santa Casa demos autonomia ao Plansul, dirigido pelo doutor Carlos
Auad, escolhido por todos da provedoria. Sou responsável pela Santa Casa, mas o gestor do Plansul
trabalha com inteira autonomia, não fazemos nenhuma interferência.
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