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10 de Abril de 2004

Valter Nascimento, especialista em cooperativismo de crédito
"A omissão dos associados facilita a corrupção em cooperativas"

      
       segundo o professor e especialista em cooperativismo de crédito, Valter Alves Nascimento. Diretor do Departamento de Economia da Uesc, ex-diretor da Cooperativa de Crédito Mútuo dos Funcionários da Ceplac e fundador de instituições de microcrédito, Nascimento tem larga experiência com o cooperativismo.
       Para ele, a região sofre pela falta crônica de uma cultura voltada a empreendimentos solidários. "Nós copiamos a cultura do coronel do cacau e esquecemos do trabalho conjunto", afirma o professor.
       Nascimento também critica a omissão dos associados de algumas cooperativas de crédito, ao aceitar que diretores se perpetuem nos cargos e cometam atos de corrupção.

A Região - Quais são as causas do fechamento em série de cooperativas de crédito no sul da Bahia?
       Em primeiro lugar, eu lhe diria que todo o trabalho que tem uma visão coletiva precisa ser antecedido por um processo de educação. Essa deve ser a prioridade zero. Outra pergunta, que cada membro da cooperativa deve fazer a si mesmo, é "que contribuição eu vou dar para que ela possa ser forte?" Se não houver essas duas preocupações básicas, estará se criando uma instituição morta.

AR - Onde está o maior problema?
       Quando você analisa a situação de algumas cooperativas de crédito da região, se percebe que o maior problema está na gestão. São administrações impregnadas de posturas deturpadas, porque faltou aquele trabalho educativo.

AR - O senhor detecta uma falta de consciência quanto ao verdadeiro sentido do cooperativismo.
       Um dos princípios básicos do cooperativismo é a adesão livre, mas isso não significa que todo mundo possa entrar. Primeiro, o membro precisa ter os mesmos objetivos que tem a cooperativa. Uma coisa que se viu muito na região era se pegar o associado "no laço". Tinha aquela história: "Ah, a gente precisa aumentar o quadro de associados" e aí se abre a porteira. Mas se você for perguntar a esse pessoal se sabe o que é cooperativa e seu papel na instituição, ele não vai saber responder. Muitas vezes até diretores não sabem.

AR - A cultura individualista que sempre predominou em nossa região não teria contribuído para isso?
       Com certeza. Nós copiamos a cultura do coronel do cacau e esquecemos de trabalho conjunto, para desenvolver as pessoas de uma maneira solidária.

AR - A Ceplac tem um dos poucos exemplos de cooperativa que deu certo, a Coopec. Qual é o segredo?
       Existem as cooperativas de crédito mútuo e as de crédito agrícola. A de crédito mútuo é aquela ligada a uma empresa e que pertence aos funcionários. Essas, para quebrar, só se tiver "trambique", porque o empréstimo feito ao associado é automaticamente descontado em folha. A Coopec deu certo e hoje tem um capital social de 8 milhões de reais e mais 5 milhões de reais em capital de terceiros girando entre os associados, com uma taxa de serviço que talvez seja a menor de toda a região.

AR - O que foi feito para obter estes resultados?
       Desenvolveu-se entre os associados uma compreensão de que a cooperativa é uma coisa forte que está a serviço do grupo e não pode dar errado. Tanto que, enquanto várias cooperativas quebraram na região, a Coopec equalizou o capital social em cerca de R$ 400 mil, rateou no início do mês R$ 804 mil entre os associados e criou um fundo de contingência de quase R$ 100 mil. A assembléia-geral da Coopec foi um exemplo e eu me arrependi de não ter levado os estudantes para assistí-la.

AR - Algumas cooperativas quebraram por perda de credibilidade, mesmo tendo liquidez. Esse risco existe para a Coopec?
       Toda instituição que desenvolve o ato cooperativo aliado a um processo de educação pode ficar mais tranqüila. Nas cooperativas onde o associado não se sente participante de fato e não confia na gestão, chega um ponto em que ele diz "vou tirar meu dinheiro, porque vai acabar". Aí vai todo mundo, porque a notícia negativa corre muito rápido.

AR - Seria a falta de segurança?
       É, porque o associado acaba não sentindo segurança no que é dele. Os exemplos de sistemas cooperativos que têm quebrado por aí são, muitas vezes, casos de instituições que não seguem as recomendações legais, esquecem os princípios do cooperativismo e deixam de lado os compromissos com os associados.

AR - Nós temos, na Bahia, regiões onde as cooperativas de crédito se firmaram?
       Em Vitória da Conquista existem pelo menos oito cooperativas de crédito mútuo funcionando perfeitamente e há pouco tempo foi implantada uma na universidade (Uesb). Eles têm também a cooperativa de crédito dos servidores municipais, com dois anos de criada e que é um modelo.

AR - Aqui é diferente apenas por questões de individualismo?
       Nós somos assim porque temos a característica que o Selem (Rashid Asmar) chama de "cavalete cultural", cujas pernas são imediatismo, comodismo, utilitarismo e individualismo. Está até melhorando, mas ainda é muito comum encontrar pessoas que entram na cooperativa com a intenção de ganhar tudo e que não têm a visão coletiva.

AR - O desinteresse de alguns associados pela administração da coooperativa também prejudica a instituição?
       É verdade, muita gente cai fora quando é chamada a assumir algum cargo na cooperativa. Ou seja, vai deixando nas mãos dos mesmos e os problemas se perpetuam. O sistema cooperativo é muito dinâmico e não se pode deixar o controle muito tempo nas mãos de uma pessoa.

AR - Por que as instituições financeiras enfrentam uma indadimplência superior entre os clientes de maior poder aquisitivo?
       Quando se trabalha o microcrédito, existe uma preocupação de educar o público-alvo, tanto que no Banco do Povo há a figura do agente educativo de crédito. A instituição se preocupa com o sucesso do empreendimento porque isso significa o seu próprio sucesso. Muitas vezes, o cliente pobre só tem seu próprio nome para preservar e, se perder isso, fica sem nada. Já as cooperativas de sociedades rurais ou comerciais enfrentam aquele problema de que já falamos: seus membros não foram preparados para viver coletivamente.

AR - A universidade não poderia dar uma contribuição para modificar essa cultura?
       A Uesc está preocupada em criar esse espírito cooperativista, tanto que o Departamento de Economia criou um curso de especialização em economia e cooperativismo. Nós detectamos que os profissionais dessa área são poucos e, quando se vai trabalhar uma cooperativa, são trazidas pessoas de fora, que não têm a visão da realidade local.

AR - Além de todo o problema da cultura, ainda tem a corrupção que atinge algumas cooperativas. Como atacar essa questão?
       Existem os conselhos de administração e o de fiscalização, formados por associados. Se um diretor tira recursos indevidamente, isso ocorre porque o conselho fiscal está deixando acontecer. O diretor-presidente do conselho administrativo não assina cheque nem libera dinheiro sozinho, sempre tem dois assinando. Além disso, todos os meses têm que haver uma reunião dos conselhos para analisar as contas. Se um diretor "mete a mão" no dinheiro, os outros estão coniventes com ele e têm que assumir junto.

AR - Você assumiu o Departamento de Economia da Uesc, num momento em que ela enfrenta dificuldades financeiras. Como fica?
       Eu tenho uma responsabilidade muito grande, pois assumi a direção de um departamento que antes era chefiado pelo atual reitor e este é o momento de mostrar que a gente sabe administrar. Gerir um departamento com dinheiro é fácil, no momento em que não se tem dinheiro é que se necessita botar a cabeça para funcionar. É preciso acreditar no potencial que nós temos, buscar parcerias e usar a criatividade.

 

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